segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O meu dia Mr Bean

Nunca gostei dos filmes do Mr. Bean. Já sei que muita gente o adora e acha um piadão, mas a mim sempre me fez confusão tanto azar e atrapalhação seguidos, tanta distração e disparate. Parecia-me tudo demasiado exagerado, demasiado condensado numa pessoa só para ser possível. A maioria das vezes apetecia-me entrar no ecrã e ajudá-lo. Entrar história adentro e dizer apenas “oh homem, desiste e senta-te aí que eu trato disso”. Como não podia fazer isso, preferia não ver a sentir-me incapaz de prestar qualquer auxílio ao pobre azarado. Hoje, tive à hora de almoço o meu momento Mr Bean. Só que, neste pequeno filme, ao contrário do que acontece nos filmes do Mr. Bean, tenho a certeza que ninguém se riu, eu não enriqueci, nem houve qualquer contributo positivo para o mundo. Pois então fui a casa almoçar, quando reparei que a minha cadela estava a mancar. Assustada, qual mãe-galinha, peguei nela e pus-me a analisar o que teria a patinha que não punha no chão, sem sucesso. Decidi levá-la até à rua, pensando que talvez com ela no jardim eu percebesse melhor se estava realmente a mancar ou se era só impressão minha. Peguei na trela e abri a porta de casa, sempre a olhar-lhe para a patinha. Conclusão: saímos as duas e as chaves ficaram dentro de casa. As chaves lá dentro e nós cá fora, eu sem saldo no telemóvel, sem carteira, sem casaco, sem nada. Apetecia-me dar-me dois estalos. Toquei a um vizinho, pensando que talvez me pudesse ajudar a abrir a porta com um cartão ou com alguma radiografia. O que aconteceu? Só faltava expulsar-me do prédio.
 - Quer abrir a porta com um cartão? Desculpe, mas não posso ajudar.

E praticamente fechou-me a porta na cara, com ar assustado, como quem fecha a porta ao Anti-Cristo (nunca vi fecharem a porta ao Anti-Cristo, mas acredito que não possa estar muito longe disto). Lembrei-me ainda que tinha umas chaves suplentes no carro. Só que as chaves do carro estavam…. Dentro de casa! Pedi ajuda a outros vizinhos, fiz mil telefonemas, nada feito. Só me apetecia chorar, enquanto o tempo passava. E quanto mais me apetecia chorar de raiva, mais o meu ar devia ser de louca, por isso menos ajuda conseguia. Como consegui resolver tudo e regressar ao trabalho? Resolver tudo, não consegui, mas deixei a cadela num veterinário perto de casa e vim trabalhar. Não sem antes ouvir este comentário da enfermeira, que me encarou com um certo ar de dúvida, depois de ouvir a minha triste história:
- Tem a certeza que vem buscá-la, não tem? É que há uma semana um senhor veio aqui a contar exatamente essa história e nunca mais veio buscar o cão.

Meu Deus. Oh senhor-abandonador-de-cães, tinhas logo que, entre mil e uma histórias rocambolescas possíveis, ir buscar uma desculpa igual à minha - e que, SÓ POR ACASO, é VERÍDICA?! É por isso que, realmente, um azar nunca vem só. E agora encontro-me a trabalhar, com um olho no computador e outro no telemóvel, a correr o risco de ficar irreversivelmente estrábida, e à espera que o “Faz-Tudo” do prédio regresse e me ligue para ir a casa abrir a porta. Sim, porque está sempre pelo prédio, mas hoje que precisava dele, estava apenas a…. 150 quilómetros. Há dias felizes. Este não é um deles.

2 comentários:

  1. Se alguém tivesse a ousadia de me perguntar se eu ia abandonar o meu cão acho que o espancava... só de pensar nisso dá-me uma volta no estômago. Boa sorte!!!

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