segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O vício dele.

Primeiro, andavam às cabeçadas. E sempre que falávamos as duas, ela desabafava sobre aquele amor "tóxico", no entendimento dela:
- Nunca mais vou estar com ele, ouviste? Nunca mais! Escreve o que eu te estou a dizer. Esta história para mim morreu.
E eu só respondia:
- Posso escrever antes o que sei que vai acontecer?
- Porquê, não acreditas em mim?
- Acredito que tu acreditas no que estás a dizer. Mas não acredito que vá realmente acontecer.
- Então o que vai acontecer?
- Ele vai ligar-te ou escrever-te uma mensagem, vai dizer que quer estar contigo, e tu não vais resistir.
- Claro que vou resistir.
- Não vais. Agora estás dura e decidida. Daqui a uma semana vais estar saudosista e carente. Escreve o que te digo.

- Ok.
Mas ela não escreveu. Nem tão-pouco acreditou em mim – aquele exercício de futurologia parecia-lhe desfasado da realidade e de improvável concretização. Eu não acreditava naquela determinação – sabia que aquele coração de pedra era ilusório e escondia, afinal, um interior de manteiga. Rimos e mudámos de assunto. Depois, uma semana mais tarde, voltámos a falar.
- Tudo bem?
- Sim. Blábláblá.
- Então o que vais fazer hoje?
- (um silêncio comprometedor...) Vou estar com o Y.
Não sou especialista em futurologia. Mas sei reconhecer um vício quando existe. E, neste caso, sei que, tal como o constante “vou deixar de fumar”, também o “vou deixar de o ver” pode até ser uma vontade, mas é daquelas vontades 'sísmicas', que tremem e se esvanecem por quase nada. Ela diz que não quer vê-lo mais, mas também sabe que gosta de o ver. Demasiado. Por isso, tal como o cigarro que fuma dificilmente será o último, também aquele beijo pouco provavelmente irá morrer solteiro. Para quê negar?

Quanto a mim, só torço pelo fim dos cigarros. Quanto aos beijos, nunca li nem ouvi dizer que fizessem mais a alguém... E sei que, feliz ou infelizmente, haverá muitas e muitas mulheres com este (bom?) vício.

4 comentários:

  1. Não há vícios positivos, existem é eufemismos suavizadores de consciência. E como nem sempre se pensa com a cabeça...

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  2. a comparação parece-me bastante apropriada...sem dúvida!

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  3. Todos temos pequenos ou grandes vicios. Alguns tao pequenos que os classificamos como cismas!

    Quanto ao vicio pelo amor toxico, por experiencia propria, acho que este tipo de amor deve ser comparavel a uma montanha russa:
    - Excitante e ao mesmo tempo assustador.
    - Leva-nos as alturas para depois nos fazer cair mais uma vez
    - Sensacoes inesqueciveis

    Pessoalmente, tive uma relacao tipo montanha russa, e outra tipo carrosel. Acho que ambos sao importantes mas uma relacao verdadeiramente satisfatoria tem de ter um pouco dos duas.

    Consequencias de uma relacao tipo-montanha russa (a medio/longo prazo):
    - Verdadeiramente cansativa. Imaginem-se meia hora numa montanha russa. Chega a um ponto e ja nao sabem se estao a subir ou a descer. Deixam de usufruir da subida, porque sabem no intimo que a seguir vao descer e sofrer novamente.

    Consequencias de uma relacao tipo-carrosel (a medio/longo prazo):
    - Tao seguro e ao mesmo tempo singelo. Uma relacao deste tipo faz-nos sentir sob um porto abrigo, mas corre o risco de se transformar no amor-companheiro. O amor que nao tem sex appeal, o amor amigo mas sem extase/sem paixao, sem lugar a grandes emocoes.

    Ambos poderao ser satisfatorios para algumas pessoas.
    Para mim, um mix dos dois sera o ideal.
    CS

    .

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  4. É a Andreia??? Juro, parece mesmo a Andreia.

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