sexta-feira, 26 de julho de 2013

As minhas avós

A minha avó paterna adora a Júlia. Só assim, com o nome próprio - "Júlia". Ou "Julinha", quando está mais bem-disposta. "O que estás a fazer, 'vó?". "Estou aqui a ver a Júlia". A minha avó paterna gosta tanto da Júlia que é como se a Júlia fosse mais um membro da família. "Ai a Júlia bem dizia, no outro dia." "Que Júlia, 'vó?". "A Júlia...". "Hãn...". E nós ficamos na mesma. A minha avó paterna também adora a Cristina. Que Cristina?, perguntam vocês. A Cristina "do Goucha". A Cristina também não tem apelido, mas tem complemento determinativo, por isso sempre anda menos sozinha. "Hoje a Cristina tinha um vestido parecido com o teu, também lhe ficava muito bem!". "Cristina? Que Cristina, 'vó?". "A Cristina do Goucha..." A minha avó paterna gosta tanto da Cristina "do Goucha", que é quase como se a Cristina também fosse cá dos nossos. Há uns anos, estava de férias na praia e fiquei a dormir na casa de praia da minha avó. Cheguei da praia para almoçar e vejo-a meia emocionada, com uma lagrimita no canto do olho, de frente para as suas familiares televisivas. A minha avó emocionada? Estranhei. A minha avó não é de grandes acessos emotivos, ao contrário aqui da neta.
- Que tens, 'vó?
- Nada... nada... Estava aqui a ver a Cristina e a Júlia a falarem.
- E é assim tão mau para estares com essa carinha? Muda de canal, então...
- Não. Elas estão a mandar um beijinho para as avós delas.
Olho para a televisão e vejo um gigante e cor-de-rosa "Dia dos Avós" escrito no rodapé.
- Ahh... Hoje é Dia dos Avós? Parabéns!!
Eu nem sabia que isso existia. Deve ter sido inventado nesse ano. Ou então ninguém me avisou. Fiquei sem saber o que fazer. Comprava um ramo de flores? Fazia o almoço? Comprava-lhe um perfume? Não sabia quais eram as regras de conduta a adoptar em Dia de Avós. Na televisão, no entanto, a Júlia e a Cristina "do Goucha" estavam a vencer-me com tremenda distância e já tinham conquistado completamente o coração da minha avó. Júlia e Cristina - 1. Neta falhada - 30 negativos. Escusado será dizer, no entanto, que nunca mais me esqueci do dia. E hoje ainda não liguei, mas assim que estes dedos saírem deste computador, hão-de ir directos para o telemóvel carregar no número da minha avó. FELIZ DIA, 'VÓ!!

A minha avó materna não sabe bem quem é a Júlia. Nem conhecerá a Cristina. No outro dia, liguei a Tvi por acaso, só tive tempo de a ouvir comentar "ai tanto barulho", e mudei. Falavam ambas muito alto, segundo a minha avó. A minha avó materna não sabe que existe o Dia dos Avós. Sei disto, porque no tal ano liguei-lhe logo de seguida a gritar também "FELIZ DIA, AVÓOO!" e fui brindada com um "é em Fevereiro, querida".  Tive que explicar: "eu sei quando são os teus anos! Mas hoje é o Dia dos Avós". "Oh estão sempre a inventar coisas. Os nossos dias são sempre, não são só uma vez por ano. Eu penso em ti todos os dias e tu em mim, não é?". E calou-me. Mas não por muito tempo. Hoje posso não ligar-lhe - até porque sim, penso nela todos os dias, como penso na minha avó paterna -, mas fica aqui também registado para a posteridade: pensei em ti, avó.

Gosto de vocês, minhas octogenárias queridas, minha avó paterna e materna, minha avó T. e A., e gosto de vocês com ou sem Dia dos Avós. E, sim, penso em vocês todos os dias. Por mil e um motivos, mas essencialmente porque são uma inspiração para mim.

2 comentários:

  1. Infelizmente já não as tenho cá para lhes desejar um feliz dia das avós. Mas o importante é que também foram e fazem parte de boas recordações com inspiração à mistura **

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  2. Aproveita cada dia delas minha querida.

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