sexta-feira, 5 de julho de 2013

Fala-me sobre o teu trabalho. Quero saber tudo.

- Já não o consigo ouvir falar de trabalho! Ele tornou-se o trabalho. É o trabalho. Já não existe para além do trabalho. Já não tem interesse nenhum para além do trabalho.
- O que vale é que vocês fazem o mesmo... Sempre podes falar com ele sobre tudo, porque afinal de contas estás dentro dos assuntos!
- O problema é esse, sabes? Precisava de chegar a casa e falar do mundo lá fora, estou farta de sair do consultório e ter o consultório em casa! Só falamos disso... Estamos a tornar-nos pessoas limitadas, sem interesse para o resto da humanidade.
- Mas não é tranquilizante saber que podes chegar a casa e desabafar sobre o que aconteceu durante o dia no trabalho, porque a outra pessoa te percebe? Não é tranquilizante saber que partilham tudo um com o outro? Têm os mesmos gostos, fazem o mesmo, são quase almas-gémeas...
- Já foi mais. Sinceramente agora que ando com mais stress só me apetecia chegar a casa e ouvi-lo falar de coisas novas, para me animar o dia e fazer-me esquecer tudo. É cansativo fazermos os dois o mesmo, parece que não temos outros assuntos, não nos puxamos um ao outro. Não ensinamos nada um ao outro. Não nos inspiramos mutuamente. Não abrimos horizontes. Percebes a ideia?

Percebi a ideia. Completamente.

E, percebo-a muito bem, porque eu própria sempre me senti mais fascinada por homens de outras áreas, que me pudessem mostrar outro mundo diferente daquele que vejo, um mundo diferente daquele que é o meu. Sempre achei mais interessante falar com alguém que, vivendo no mesmo lugar que eu, rodeado pelas mesmas coisas,  trabalha com diferentes peças desta máquina - chamada "vida" - que é só uma, mas com múltiplas possibilidades. Gosto de aprender. Ensinar. Gosto de crescer. Abrir os horizontes. Ver fora da caixa. Ouvir conceitos novos. Percursos diferentes. Acompanhar relatos de dias tão diferentes dos meus. Dizem que amar é sermos um só. É encaixarmos. Completar-nos. Concordo. Simplesmente, sempre achei que me completava melhor com alguém diferente de mim. Para ser eu, já basto eu. Não preciso de ninguém igual a mim. Dizem que amar é partilhar. É contar tudo. É saber ouvir. Eu gosto de partilhar dias diferentes dos meus. Relativizar. Aprender. Quem disse que amar tem que ser encontrar alguém igual a nós? A alma-gémea pode ser, afinal, cansativa, monótona. E talvez por isso, sempre procurei, isso sim, a cara-metade - alguém que, mesmo sendo diferente, com gostos opostos, hábitos distintos, percursos díspares e outra profissão - se vai encaixar, como uma peça dum puzzle, bem direitinho na minha vida. E ensinar-me. Fazer-me crescer. Amar não é crescer, também?

5 comentários:

  1. Não concordo apenas com 1 coisa. Os 2 podem ter a mesma profissão e mesmo assim terem gostos diferentes sobre tudo o resto. Podem falar sobre o que fazem dia a dia, mas falar sobre muitas outras coisas também.

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  2. Anónimo13:02

    Tens uma visao muito romantica da vida.

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  3. Acho que em parte tens razão, mas se tiverem gosto completamente distintos também não vai dar certo...

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  4. "Para ser eu já basto eu".
    Concordo com quase tudo, ou não fosse o homem de outra área. Mas profissões iguais devem dar jeito para trocar ideias.

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  5. Anónimo07:45

    Eu e o meu marido temos a mesma profissão e nunca falamos sobre o nosso trabalho quando estamos juntos.....mas é bom, muito bom mesmo, ter alguém que percebe algumas situações do dia a dia que sao muito especificas e que so ele pode compreender! Para além de que também é óptimo para tirar duvidas lol beijinhos, adoro o teu blog!

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