segunda-feira, 22 de julho de 2013

O pacto

Foi ele que teve a ideia, numa noite sem sono, mas cheia de sonhos. Daquelas noites cheias de conversas. E muitas promessas. Estavam sentados no muro junto à praia, depois duma festa que acabara há muito, a olhar o mar e os desenhos que o reflexo da lua fazia nas ondas. Depois de uns segundos de introspecção, olhou para ela com cara de quem teve um golpe de génio e disse:
- Se estivermos sozinhos aos trinta anos juntamos os trapinhos, ok?
Ela riu-se. Aos trinta anos? Faltava mais duma década ainda. Seria noutra vida! Mas davam-se bem, por isso até fazia sentido.
- Combinado! Tenho é duas regras para ti: não podes engordar. E tens que ter uma boa profissão, porque eu não vou casar-me para sustentar um falhado.
- É justo. E então eu exijo o mesmo, não vá tornares-te uma obesa irreconhecível.
E falaram então sobre como seria a vida deles daí a tantos anos. Imaginaram casas grandes, com música clássica a dar de fundo. Empregadas a limpar todos os cantos. Grandes carros na garagem. Empregos de sonho. Imaginaram-se adultos e responsáveis.
- Mas não tenho pressa nenhuma de ter trinta. Estamos tão bem assim, não estamos?, dizia ele.

Estavam. Estavam realmente óptimos assim como estavam. Mas o tempo não pára. Doze anos vieram, passaram por eles e levaram-nos até aos trinta num piscar de olhos. E eu lembrei-me disto ontem, ao ver um pacto semelhante num filme. Porque o pacto descrito foi o "meu pacto", feito em Agosto de outra vida, numas férias passadas na mesma praia de sempre. Nunca mais me tinha lembrado disto até ontem. Mas a outra década afinal passou, e bem rápido. Sou adulta. Mesmo que ainda continue tantas vezes sem sono. Só sonhos. E a pedir conversas, e promessas, na esperança de impedir que, enquanto pisco novamente os olhos, doze anos me levem. Sou adulta. Aquela vida com que brincávamos afinal chegou. Sem necessidade de recorrer a pactos, porque não estou sozinha, estou bem acompanhada e feliz, - e assim está também ele. De qualquer maneira, ao lembrar-me disso, não pude deixar de reparar num pormenor engraçado: a brincar, a brincar, a verdade é que até cumprimos parte do pacto, pois nenhum engordou e temos profissões aceitáveis. Será que ele ainda se lembra...?

6 comentários:

  1. Fiz alguns pactos qd criança com amigas a prometermos que seriamos sempre amigas e um dia iriamos viajar pelo mundo fora juntas.
    Com o tempo desencontramo nos, sei que tb cumpriram parte do pacto e ja viajaram pelo mundo com as suas caras metades. Eu ainda nao cumpri a parte de viajar fora de Portugal, mas está para breve.
    (tambem nao tinha datas :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Se não tinham datas, quem sabe um dia destes ainda o cumprem... É um belo plano!

      Eliminar
  2. Se algum dia fizer algum pacto vou tentar excluir a parte de engordar para não ficar mal ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Oh também engordei um bocadinho... mas eles depois não se lembram bem como é que nós éramos :p

      Eliminar
  3. Também fiz dois "pactos" parecidos, aos 18 anos perguntou-me se queria casar com ele, eu prometi que se voltasse aos 28 até podia ser. Mas o que mais me assusta foi o outro, o de largarmos tudo aos 60 para ficarmos enfim juntos, já que naquela altura era impossível e nos parecia impossível para sempre, caramba, do que me foste lembrar.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ahahah aos 60 vais largar tudo?? Essa é linda. "Adeus, família, tenho um pacto para cumprir. Fiquem bem". :)

      Eliminar