- Tinhas nada.
- Tinha, claro. Gosto da tua companhia.
- Conversa do bandido.
- Não é nada... E se me desses mas é um beijo?
Ele era pessoa de substantivos. Ela preferia fazer mais uso dos adjectivos.
- Estás tão giro hoje.
- Já conhecias este fato.
- Mas fica-te maravilhosamente bem!
- Oh fica como ficam os outros.
- A sério... Estás óptimo.
- A sério... Estás óptimo.
Ela era pessoa de adjectivar aqueles de quem gostava. Elogiava-o com frequência. Mas também queria arrancar-lhe um elogio da boca. Era mulher e toda a gente sabe que as mulheres alimentam-se de elogios. Só que estava difícil.
- Fica-me bem o cabelo assim?
- Sim.
- Gostas de ver estas calças em mim?
- Muito. Leva-as.
- Fazem-me boa?
- Fazem.
- Fazem-me boa?
- Fazem.
Ele conseguia, com os substantivos, dizer mais que ela em mil adjectivos. Mas ela não estava satisfeita.
- Porque é que nunca me elogias?
- Sabes que sou das Ciências. Gosto do exacto. Do palpável. Do certo. Dos nomes. Dos verbos. Das acções. Os adjectivos e as palavras todas bonitas ficam para os românticos, para os poetas.
- Mas eu gostava de ouvir uns elogios de vez em quando... Uns adjectivos depois do meu nome.
- Não preferes simplesmente saber que te adoro? Sempre te adorei e vou adorar-te para sempre.
- Oh. Estragaste tudo com essa tirada. Ganhaste. Também te adoro e adorarei.
Ele era pessoa de substantivos. Ela, de adjectivos. Mas, juntos, sabiam conjugar verbos como ninguém. E isso pelo menos unia-os. Une-os. E unirá.
Curiosidade:
ResponderEliminara) Qual é o teu verbo preferido?
b) Em que tempo?
c) Em que pessoa?
Ass. Observador Atento