Perguntei se precisavas de advogada, mas explicaram-me que estavas numa ilha privada, em pleno Pacífico, da qual, por coincidência, não podes ser extraditado. Folgo em saber.
Não li o processo, mas quero que saibas que, até prova em contrário, vou sempre acreditar na tua inocência. Além disso, pela data a que os crimes se reportam, julgo que estarão prestes a prescrever, certo? Sim, sabes que tenho obrigação de saber estas coisas.
Bem, mas não é para falar de coisas tristes que te escrevo. Como sabes, o país anda mergulhado num pessimismo geral e esta carta pretende ser alegre.
Escrevo-te, porque tenho saudades tuas. Tenho saudades de ouvir, na madrugada de 24 para 25 de Dezembro, os sinos das renas, pontualmente, à meia-noite. Tenho saudades de ouvir os teus passos, fortes e determinados, a avançar no piso de cima daquela sala sempre aquecida pela lareira. A porta que abre, com convicção, e fecha, acelerando o meu coração. Tenho saudades de te ver descer. O famoso fato vermelho, a barba, as botas da neve e o teu gorro tão característico. E o saco? O saco cheio, a arrastar-se. E os meus olhos colados "que grande saco!". E o ritmo cardíaco a aumentar, a aumentar, de expectativa.
Chegavas e iluminavas a casa. "Ho ho ho", dizias. E aquilo soava-me a sapiência, não sei porquê. Sim, porque eras capaz de estar em todas as casas do mundo num só dia, contra todas as explicações que a ciência, e a razão, e os professores, e os meus pais pudessem dar.
"Está muito frio lá fora, Pai Natal? As renas estão boas? E o Pólo Norte? As crianças portaram-se bem, Pai Natal? Merecem boas prendas? Olhe que ali o ... não comeu sempre a sopa."
Mas tu perdoavas tudo. Perdoavas a sopa que ficou no prato. Os legumes por provar. A fruta deitada fora. As vezes em que não arrumámos o quarto. Que faltámos às aulas. Ou até aquelas vezes em que tivemos más notas nos testes. Sem moralismos, nem lições. Perdoavas e sorrias.
Distribuías os presentes por mim e pelas restantes crianças primeiro. Os adultos vinham depois. Dizias umas piadas e depois partias, rumo aos céus, por esse Mundo fora.
E às vezes questionava-me de onde vinha toda a tua fortuna. Bem, na verdade questionava-me durante um segundo e depois ia abrir os presentes. E ficava sempre feliz por me conheceres tão bem e acertares sempre nos meus gostos.
Tenho muitas saudades tuas. E penso que falo em nome de todas as ex/ presentes/ futuras crianças deste mundo quando digo que fazes cá falta.
Aproveita esses dias de Sol para descansar. E vê se regressas depressa.
Atenciosamente,
a tua sempre (saudosa)
Pippa.

Pippa és advogada? Se sim posso entrar em contacto contigo? Assunto profissional. Rita Herédia
ResponderEliminarRita, o meu email está no blog, podes escrever-me. Perguntas pessoais/ técnicas prefiro responder por lá ;) Obrigada.
EliminarJá está. obigada.
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