quarta-feira, 17 de julho de 2013

A propósito do "normal" de ontem.

A propósito deste post - e apesar do tom mais descontraído do mesmo -, a verdade é que ontem fui para casa, no final do dia, ainda a pensar nisto. Algo dentro de mim ficou a remoer algum tempo e não havia maneira de me livrar daquilo. Uma irritaçãozinha permanente. Uma revoltazinha que ia dando uns sinais de si. Primeiro, não percebi por que estava assim. Depois, parei para pensar um pouco e finalmente fez-se luz. Crescemos a ouvir falar em mil e uma doenças, e em mil e duas formas de as prevenir e detectar atempadamente. Crescemos a ouvir falar em hábitos de vida saudáveis, e na necessidade de combater a vida sedentária com desporto e actividade. Crescemos a ouvir falar em cuidados a ter com a alimentação. Crescemos alertas para o nosso corpo e para o protegermos. E julgo que, por isso, é natural que, ao mínimo sinal, sintamos o apelo de consultar um médico. Fi-lo quando senti, certo dia, algo mais duro numa mama. Fi-lo quando senti, certo dia, que estava a ver pior. Fi-lo quando senti, certo dia, que me custava respirar ao fim de dez metros a correr. Fi-lo quando reparei, certo dia, que o joelho esquerdo estava instável. Fi-lo quando senti, certo dia, que andava com menos energia que o normal. E fi-lo todos os anos, em mil e outros contextos. E foi assim que soube, na maior parte das vezes - e para minha alegria -, que afinal estava "tudo bem" e não tinha com que me preocupar. Mas foi também assim que descobri que tinha asma. E foi também assim que descobri há uns anos que estava com uma anemia em ferro. Por isso, ainda bem que fui a todas essas consultas.

Não me considero hipocondríaca, ao contrário da brincadeira do título de ontem. Apenas gosto de estar alerta a todos os sinais. E, sinceramente, se marco uma consulta, se saio do trabalho a meio do dia para ir lá (porque é a disponibilidade que têm), se a pago, e se me exponho ao médico a contar aquilo que sinto, espero no mínimo que me oiça até ao fim. São só dois minutos. Não espero uma medalha de mérito - "parabéns! é um exemplo. vai levar esta medalha por confiar nos médicos e preocupar-se com a saúde!". Não espero uma palmadinha nas costas. Não espero uma banda filarmónica à saída da consulta e a TVI a entrevistar-me para uma reportagem sobre mulheres conscientes da sua saúde. Não... Só peço mesmo é que o médico me oiça até ao fim. Finja pelo menos que me está a ouvir. Respeite o meu relato. Não sou médica e por isso estou a pedir-lhe uma opinião a ele. Estou a confiar nele enquanto profissional especializado. Ontem, isso não aconteceu. Perante uma dúvida séria que tinha, o médico interrompeu-me bruscamente, a sorrir de forma benevolente - "isso é normal!". Pedi-lhe para terminar a minha frase. "Não, acredite, isso é normal", acrescentou-me em tom de fim de conversa.

Acredito que seja normal. Mas podia pelo menos ter-me ouvido até ao fim. As consultas são caras. Não sou uma boa samaritana que decidiu ir ali deixar algum dinheiro, porque não tinha outro destino para lhe dar. E acreditem que havia muitos destinos. O dinheiro que ali deixei já dava para os saldos ali ao lado da Clínica. O que eu tinha podia ser normal. E ainda bem que era. A revolta foi pelo modo condescendente e apressado com que fui tratada. E que julgo que pode afastar muitos pacientes dos médicos. A mim não me afasta, porque felizmente já tive médicos óptimos. Mas acredito que, para muitos, uma consulta destas tê-los-ia afastado das clínicas e hospitais uns bons anos... talvez até ser tarde demais.

2 comentários:

  1. Erram diagnósticos, muitas vezes, por tudo ser normal. Não são alarmistas, é o que profissão lhe pede, provavelmente. Para nós enquanto utentes dá-no a sensação que só nos querem despachar. Felizmente há excepções.

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  2. Olá Pippa. Primeiro quero dar-te os parabéns pelo teu blog. Sou seguidora assídua!
    Percebo bem o teu sentimento. Infelizmente a maioria dos médicos são assim. Acham sempre que nós é que gostamos de inventar doenças como se isso fosse para cima de espectacular! Numa das minhas últimas visitas à médica de família disse que sentia um cansaço extremo ao que me respondeu: é a chegada da Primavera!Humm.. Análises? Vitaminas? Diagnóstico? Que nada!
    Fazes bem em te preocupar com a tua saúde e de fazer as milhentas perguntas que te apetecer. Os médicos têm que perceber que somos leigas no assunto e precisamos que nos expliquem e que nos ouçam. Classe médica que me desculpe, mas falta-vos sensibilidade e paciência e isso meus caros não vem nos livros ...

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