Houve, contudo, um amor platónico que durou até mais tarde. Chamemos-lhe antes "um fraquinho" - tinha um fraquinho durante os primeiros anos da faculdade por um vizinho. Não sabia o nome, a idade, o que fazia, nada. Apenas sabia que era giro, vestia-se bem e tinha um ar de bom rapaz. Anos passaram-se. Nunca mais o vi. Até hoje.
Entrei no elevador e vinha ele. Tímida como era antes, nunca o cumprimentava, apesar de cumprimentar todos os ex vizinhos, seguranças, empregadas, toda a gente. Nunca o cumprimentava por vergonha. Até hoje. Presos no mesmo espaço, conseguia ouvir-lhe a respiração e sentir-lhe o perfume. Conseguíamos ouvir o engolir em seco de cada um. Era desses elevadores.
- Olá! Há quanto tempo, disse-me, com ar decidido, de sorriso rasgado. Eu só pensava "é mais baixo que eu, não é? Ao longe não parecia. E está a perder cabelo, já. É pena."
- Olá! Pois é.
- Está boa? Falou, e eu a pensar "e que voz fina. Imaginava-a mais grossa. É simpático demais. Não tira o sorriso da cara?"
- Sim. Obrigada. Tudo bem?
- Óptimo. Apareça mais vezes por estes lados. E piscou o olho. "Está velho", pensei.
Desmitificou-se tudo.
À noite, quando jantávamos, contei-lhe.
- Vi o giro, aquilo vizinho de que eu gostava. Fomos juntos no elevador, imagina. Preferia nunca ter falado com ele. É baixo, tem uma voz esquisita. Não é nada como imaginei.
- É bem feita, é para aprenderes. Tens aqui uma paixão bem real e metes-te no platonismo. Isso nunca resultou.
Adoro a visão prática deste homem.
Ahahaha ;)Mas que pragmatismo maravilhoso*
ResponderEliminarPor acaso tenho o privilegio de escutar coisas do género, uma vez que o meu namorado também partilha dessa "visão prática" xD
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A frase dele foi um pouco virada para o ciume =)
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarObrigada pela dica, Milene. Li o texto dele e adorei!
EliminarTens noção que ele deve ter achado o mesmo de ti, certo?
ResponderEliminarSim, ele também imaginava que eu tinha a voz mais grossa. ;)
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