quinta-feira, 11 de abril de 2013

Amores platónicos

Até ao primeiro beijo, era uma criança (primeiro), e adolescente (depois) muito dada a amores platónicos. Sonhava, fantasiava. E não saía disso. Era um bocado ridícula, portanto. Mas não faz parte dessa idade? No meu caso, tinha um estilo bem definido: marrões. Sobretudo, marrões. Ou "betinhos". Os meninos com ar de bem comportados. Bons alunos. Eram o meu "tipo". Terei tido um ou dois amores desse estilo, e o engraçado é que acho que nalguns casos até era correspondida. Só que era tão tímida que desviava depois o olhar, limitava-me a corar e a fugir.

Houve, contudo, um amor platónico que durou até mais tarde. Chamemos-lhe antes "um fraquinho" - tinha um fraquinho durante os primeiros anos da faculdade por um vizinho. Não sabia o nome, a idade, o que fazia, nada. Apenas sabia que era giro, vestia-se bem e tinha um ar de bom rapaz. Anos passaram-se. Nunca mais o vi. Até hoje.

Entrei no elevador e vinha ele. Tímida como era antes, nunca o cumprimentava, apesar de cumprimentar todos os ex vizinhos, seguranças, empregadas, toda a gente. Nunca o cumprimentava por vergonha. Até hoje. Presos no mesmo espaço, conseguia ouvir-lhe a respiração e sentir-lhe o perfume. Conseguíamos ouvir o engolir em seco de cada um. Era desses elevadores.
- Olá! Há quanto tempo, disse-me, com ar decidido, de sorriso rasgado. Eu só pensava "é mais baixo que eu, não é? Ao longe não parecia. E está a perder cabelo, já. É pena."
- Olá! Pois é.
- Está boa? Falou, e eu a pensar "e que voz fina. Imaginava-a mais grossa. É simpático demais. Não tira o sorriso da cara?"
- Sim. Obrigada. Tudo bem?
- Óptimo. Apareça mais vezes por estes lados. E piscou o olho. "Está velho", pensei.
Desmitificou-se tudo.

À noite, quando jantávamos, contei-lhe.
- Vi o giro, aquilo vizinho de que eu gostava. Fomos juntos no elevador, imagina. Preferia nunca ter falado com ele. É baixo, tem uma voz esquisita. Não é nada como imaginei.
- É bem feita, é para aprenderes. Tens aqui uma paixão bem real e metes-te no platonismo. Isso nunca resultou.

Adoro a visão prática deste homem.

6 comentários:

  1. Cláudia Sousa10:20

    Ahahaha ;)Mas que pragmatismo maravilhoso*
    Por acaso tenho o privilegio de escutar coisas do género, uma vez que o meu namorado também partilha dessa "visão prática" xD
    ***

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  2. A frase dele foi um pouco virada para o ciume =)

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Obrigada pela dica, Milene. Li o texto dele e adorei!

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  4. Anónimo17:10

    Tens noção que ele deve ter achado o mesmo de ti, certo?

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    1. Sim, ele também imaginava que eu tinha a voz mais grossa. ;)

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