terça-feira, 23 de abril de 2013

Mulher, filha, irmã, tia, amiga, Dra. Mas para mim o nome é outro.

Noite após noite, era o mesmo ritual: metias-me na cama e líamos uma ou duas histórias. Invariavelmente íamos para a colecção da Disney ou para a Cinderela (eu sei que era um pouco repetitiva, mas adorava as imagens e os vestidos que ela usava). Sentavas-te na minha cama, junto a mim e começava o espectáculo. Primeiro, cantavas uma música de apresentação, tal como faziam as cassetes da Disney. Depois, entoavas os diálogos com voz diferente, de acordo com a pessoa que falava. Ele eram crianças, homens e mulheres, velhinhos e velhinhas, e até animais. Todos tinham a sua voz e eu estava ali para corrigir, caso te enganasses na voz da personagem. Depois, era o som dos tambores a rufar que demonstrava todo o suspense típico da aproximação ao clímax da história. Eras uma cantadora nata de histórias, já te disse isto? E penso muitas vezes que, talvez por isso, gosto ainda hoje de contar as histórias sempre com princípio, meio, muitos muitos muitos pormenores e, só então, o fim. Porque eu própria fui habituada a saborear cada pormenor das narrativas até sentir que merecia conhecer o desfecho. E fui habituada contigo.

Noite após noite, era o mesmo ritual: metias-me na cama e líamos uma ou duas histórias. E lembro-me de sentir a tua pele de sede a fazer-me, de vez em quando, festinhas no cabelo. A mesma pele que ainda hoje manténs e que não conheço igual. E lembro-me de sentir o teu perfume. Um misto de creme de noite com o perfume do dia e com os produtos do cabelo. "Não nos podemos deitar sem lavar a cara, os dentes, pentear o cabelo e pôr creme", dizias-me. "Por muito forte que o sono seja ou a preguiça. O nosso corpo um dia agradece". E o teu agradece-te todos os dias, porque a idade ignorou-te gentilmente e não passou por ti.

Noite após noite, era o mesmo ritual: metias-me na cama e líamos uma ou duas histórias. Noite após noite, mantenho o mesmo ritual, sabias? Primeiro, o ritual de beleza. Depois deito-me. E leio. Faço vozes internas conforme as personagens. Abrando o ritmo de leitura conforme me aproximo do fim. Releio partes anteriores. E saboreio cada pormenor da narrativa até sentir que mereço conhecer o desfecho.

Noite após noite, fui e continuo a ser parte de ti. Sou parte do teu sorriso rasgado, das tuas ondas douradas, da tua pele de seda e do teu perfume. Sou parte da mulher mais completa que já tive o prazer de conhecer, da filha, da irmã, da tia, da amiga, da "Dra.", daquela que pode ter todos os nomes e mais alguns, mas que eu tenho a sorte de poder chamar "Mãe". Mamã, muitos parabéns!! E obrigada por me teres contado uma história tão feliz em que fui também protagonista. Uma história chamada "vida".

21 comentários:

  1. Anónimo11:52

    Muito bonito... Tocou-me no coração.
    Não tive uma Mãe assim. Boa sorte para as duas

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    1. Obrigada. Espero que tenhas, no entanto, outras pessoas igualmente importantes e que gostem assim de ti. :)

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  2. Provavelmente nunca deixei por escrito aquilo que penso dos teus textos... mas a verdade é que a maioria me comove imenso :) E, honestamente, é um dos poucos blogues que conheço que o consegue fazer ^.^
    Obrigada, revejo-me muito nestas palavras e nesse mimo entre mãe e filha.
    Beijnho*

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    1. Obrigada, Tânia! Se a minha mãe não se emocionar logo, atiro-lhe à cara que outras pessoas se emocionaram. ;) beijinho

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  3. Que lindo texto =) Estou sem palavras...

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    1. Espero que a minha mãe também goste! Vou mostrar-lhe logo.

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  4. Adorei :) Tenho uma mãe destas ;)

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  5. que texto bonito :) gosto tanto, tanto do teu blog! continua

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    1. Enquanto tiver esta vontade de escrever, ninguém me pára. Para o bem e para o mal, que há dias em que só me apetece disparatar. Mas obrigada, Ana!! :)

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    2. Ainda bem que tens dias assim.. eu gosto muito! Gosto tanto, que decidi criar um blog e o teu blog foi, sem dúvida, o que mais me motivou a criar o meu! se quiseres, dá uma vista de olhos www.naosejasojoao.blogspot.com (ainda não tem quase nada...) beijinhos*

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  6. Adorei ! que texto lindo , também eu tenho a sorte de ter uma mãe extraordinária e como gostava que um dia algumas das minhas filhas me escrevesse um texto "parecido" com este ! beijos e o seu blogue já faz parte do meu dia !

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    1. Hão-de escrever, Teresa!! Tenho a certeza. beijo grande

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    2. Anónimo16:26

      também eu adorava. não que o faça com esse objectivo, claro. mas deve ser muito bom ouvir palavras assim de um filho.

      a minha mãe também me contou histórias mas não me lembro de tantos detalhes. tens boa memória Pippa.

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  7. Que texto lindo e íntimo. Obrigada pela partilha.

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  8. Que bonito Pippa :) A tua mãe deve estar babadissima :))

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    1. Ainda não. Só depois do jantar é que lhe mostro. Shiiiiiu. ;)

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  9. Isto das histórias marca muito, sabes? Mesmo que as mães estejam a apanhar uma valente seca quando o fazem, cria-se uma ligação muito bonita com os filhos e incute-se desde novos o gosto pela leitura. Tenho a certeza que a tua pipoquinha um dia te vai dizer algo parecido com isto. Dá-lhe uns anos... ;)

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  10. Anónimo07:39

    Pipa começo o meu dia «CONSIGO»
    adoro ler tudo o que escreve.
    Parabéns

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  11. oh, que lindo Pippa :)

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