Ela? Era, sem dúvida, uma simplificadora. Não vivia um passo à frente, sentia cada passo a tocar no chão. Não problematizava. Solucionava. Não questionava. Fazia. Agia. Sem dúvidas, sem porquês. E, todas as noites, deitava-se na cama e adormecia em dois segundos. Não problematizava.
Nesse dia, quando ele a convidou a ir até casa dele aquecer uma lasanha congelada no microondas e assistir ao National Geographic, riu-se do programa tão simples e nem lhe ocorreu recusar. Estava sozinha naquela casa tão fria. E andava triste, não gostava de estar só. Ele também se queixava da solidão à noite. Porque não juntarem-se? Era uma equação tão simples - a soma de dois seres solitários é igual a uma dupla acompanhada e feliz. Era Janeiro. Estava frio. E só queria companhia. Aceitou.
Tocou à campaínha. Ele abriu. Sorriu sem constrangimentos. Ela respondeu. Cada um vestido de forma tão casual, que ninguém diria que tinham perdido a última meia hora em frente ao espelho a questionar a escolha da roupa. Era normal. Era "normal", repetia cada um para si mesmo. Iam só aquecer uma lasanha congelada no microondas. Assistir ao National Geographic. Era um programa tão despretensioso que só podia ser normal. Era normal!
Ela pôs a mesa. Ele tocou-lhe na mão, sem querer. Coraram os dois. Era normal. Ela era uma simplificadora. Não vivia um passo à frente, sentia cada passo a tocar no chão. Não problematizava. Era normal, aquele jantar. Jantaram. Viram televisão. Ou nem por isso. Porque afinal falaram até às 4h da manhã, sem olhar para a televisão, praticamente. No fim, ela pôs-se a pé e despediu-se. Coraram os dois. Era normal.
Nessa noite, nenhum conseguia adormecer. "Devia ter ido? Vou parecer uma fácil". "Ela aceitou. Estaria à espera que oferecesse mais do que um jantar?". "Ele não me trouxe à porta. Quer dizer que nem mereço um gesto de cavalheirismo?". "Ela foi tão brusca no fim. Será que gostou?"
O mundo divide-se entre os que simplificam tudo o que vivem e entre os que complicam tudo aquilo com que se deparam. Os simplificadores e os complicadores. E todos temos um mundo inteiro dividido dentro de nós.
Adoro estas tuas histórias e a maneira como as escreves e descreves =)
ResponderEliminarEu gostava de ser simplificadora, mas não sou ... sou mais para o complicado!
ResponderEliminarEstes textos são tão despretensiosos que chegam a ser geniais! Todos somos simplificadores, exceto quando somos complicadores :*
ResponderEliminarUma simplificadora também pode ser complicadora. Sinceramente nao acredito q existem pessoas simplificadoras totalmente. Impossivel!
ResponderEliminarGostava imenso de ser simplificadora, mas não dá para controlar!
ResponderEliminarGostava imenso de ser simplificadora, mas não dá para controlar!
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