sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A minha Gaiola

Ontem o dia terminou com a “Gaiola Dourada” – sim, finalmente sinto-me “pessoa!”, pois devia ser o único ser vivo em Portugal que ainda não tinha visto o filme. Se me ri até chorar? Não. Mas sorri umas vezes. E ri com vontade outras. Não considerei o humor brilhante, mas nem estava à espera que fosse (para quem adorava o “Seinfeld” com todas as forças praticamente todo o período pós-série é de luto e de desilusão). Aliás, confesso que até aconteceu o contrário: o sentido de humor até me surpreendeu, porque esperava pior. Para quem já teve vergonha alheia em filmes com a Jennifer Aniston, Ben Stiller ou o Adam Sandler, em momentos rústicos e primitivos de humor que envolvem quedas, problemas intestinais ou personagens completamente caricaturadas, este filme nem teve muitos momentos desses. Dispensava a parte do cunhado da Rita Blanco a praticamente morrer na casa-de-banho, dispensava a Maria Vieira* a cortar o frango e a intimidar o patrão, dispensava a Maria Vieira a dançar em cima da mesa com a patroa, dispensava falar-se tanto de “bacalhau”, mas vi a sala inteira a rir-se com estas passagens, por isso julgo que se conseguiu o expectável: divertir a maioria.

Se houve demasiados “clichés”? Talvez. Mas sei que esta geração de emigrantes é diferente da nova vaga “cool” de emigrantes, que se sentem mais cidadãos do mundo que propriamente Portugueses, e que nem levam essa ideia da “portugalidade” tão a sério. Há uns anos, conheci uma comunidade de emigrantes portugueses de Elizabeth, uma cidade americana pertencente ao estado de New Jersey. Estes emigrantes viviam a dois passos de Manhattan, bastaria meterem-se no metro para, em meia hora, estavarem em plena Times New Square. No entanto, viviam ali, de forma orgulhosa e teimosamente portuguesa, lendo os seus jornais da Comunidade Portuguesa, comparecendo nas reuniões e festividades do Clube Português de Elisabeth, e ostentando com orgulho símbolos da sua saudosa pátria. As mulheres exibiam penteados que foram um “hit” nos anos 80, plenas de volume Elnett e franjas ripadas. Os homens vestiam camisas com padrões iguais àquele que encontramos nos nossos pais nos álbuns de família da nossa infância. Eles tinham parado no tempo. Ouviam rancho e fado procurando manter-se iguais ao que eram quando cruzaram o Oceano, há décadas atrás. Viam o Benfica com a mesma fé. Os filhos, Jennifer Pereira ou John Ribeiro, eram 100% americanos, mas eles recusavam-se a “americanizar-se”, como se isso simbolizasse uma ofensa à pátria. Acreditem que, ali, senti-me eu própria pouca Portuguesa…

E tudo isto para dizer que acreditei, portanto, no filme. Acreditei na história destes portugueses que saíram em busca de uma melhor vida, mas que tentam manter aquilo que associam às suas origens. Acreditei na história destes portugueses que querem voltar, mas cujos filhos se sentem já desligados daquele país de que os pais falam. Achei comovente e credível o namorado da filha levar mais a sério o “ser português” que ela própria. O filme pode não ser brilhante. Mas fez-me acreditar na família. Se senti vergonha de ser portuguesa? Não, não senti. Senti-me até orgulhosa destes portugueses que, mesmo estando longe, gostam tanto do seu país. Pode ser um país diferente daquele que vejo, um pouco mais “kitsch”, cheio de imagens da Amália, dos pastorinhos, cheio de Benfica, bacalhau e fado, mas, apesar de tudo, é o país deste tipo de emigrantes. E é um filme melhor que 99% dos filmes com atores portugueses que vi até hoje.


*Obrigada, pessoas atentas que me chamaram a atenção - sim, tinha escrito "Maria Rueff". É bom ver que estão mais acordados que eu. ;)

11 comentários:

  1. Anónimo15:04

    Maria Vieira e não Maria Rueff :)

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    1. Tive de ir ao google confirmar que não estava enganado mas vinha dizer o mesmo :P

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  2. Anónimo15:32

    Maria (como a geração antiga de que fala) mas Viera.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Acredita que quando estas longe do teu pais ficas mais patriota e levas a serio a "Portugalidade"! E quando das conta tens os cliches tipicos de emigrantes, e das muito mais valor ao que temos em Portugal!

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  5. Eu adorei o filme! acho que para filme Portugês está muito bom, melhor que alguns americanos!

    nadinhadeimportante.blogspot.pt

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  6. Tambem gostei muito do filme e quando pensei que seria o primeiro filme português a valer a pena logo me corrigiram. Não é Português. É todo falado, realizado em Frances e filmado em França

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  7. É um filme francês, feito para emigrantes. Grande parte dos não-emigrantes não percebe a essência de algumas coisas... como o falar tanto de bacalhau! É que, excepto em mercearias portuguesas, em França não há bacalhau tal como o conhecemos em Portugal. Só existe bacalhau fresco, em filete ou à posta.
    E depois o fado, as bandeiras etc e tal... trata-se da mesma coisa!
    Só quem está ou esteve longe do seu país consegue perceber a falta que nos faz tudo o que é português!

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  8. Anónimo23:07

    Aquilo que viste na América é o que se passa em França para a maioria dos emigrantes, têm os seus próprios cafés portugueses, vão a bailes portugueses e é vê-los levar o carro cheio de bacalhau cada vez que vêm a Portugal. O filme estava cheio de clichés mas retrata na perfeição a vida dos emigrantes em França, claro que há exceções mas grande parte nunca chega realmente a conhecer a cultura francesa

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  9. Sou mesmo a única pessoa no mundo que ainda não viu o raio do filme!

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  10. Talvez por estar há 7 anos fora de Portugal, eu gostei do filme, soube-me mesmo bem.

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