quinta-feira, 7 de março de 2013

Falar ao telefone

Quando era mais nova, era um acontecimento. O telefone de casa tocava, atendia e, se era para mim, fechava a porta da sala e era capaz de ficar horas a falar com as minhas amigas (primeiro) ou namorados (depois).
Era um acontecimento. Conversava-se sobre o dia, sobre a semana, sobre os sentimentos, sobre a escola, sobre os nossos sonhos. Era capaz de ficar horas ao telefone.
Com o primeiro telemóvel, comecei a habituar-me a falar no quarto, à noite, até ser hora de dormir. Mais uma vez, conversava-se sobre o dia, a semana, os sentimentos, a escola e sonhos. Muitas horas passei eu ao telemóvel. O meu pai começou a brincar comigo e a dizer que eu devia ser accionista da companhia telefónica - e ainda hoje diz, mas agora tem menos motivos para usar a piada.
O que é certo é que, à medida que os anos foram passando, comecei a cansar-me de falar tanto tempo seguido ao telefone. O facto de ter que usar o telefone em trabalho, durante o dia, também terá contribuído para isso, acredito. De qualquer maneira, acontece-me frequentemente, nos últimos anos, ficar entediada com um telefonema e apetecer-me desligar ao fim duns minutos. Não é por mal, mas é a mais pura realidade.
A minha mãe já se chateou comigo algumas vezes. Diz-me que sou a pessoa menos apelativa do mundo ao telefone e que nem pareço a mesma pessoa que sou ao vivo. Chateia-se porque atiro só uns monossílabos, porque a despacho ou porque tenho sempre pressa. Mas o que acontece é que me canso fisicamente da posição de ter o telemóvel encostado ao ouvido. Faz-me impressão o calor do mesmo. E começo a concentrar-me noutras coisas que vão acontecendo à minha volta.
Com a idade, comecei a gostar de usar o telemóvel para marcar programas, dar recados, actualizar amizades, tirar dúvidas de trabalho ou para utilizar alguns serviços. Longas conversas prefiro ter ao vivo. Acho que não há nada como conversar olhos nos olhos, contagiar e sermos contagiados por um sorriso, fazer caretas, tocar no braço duma amiga que está triste, dar um beijinho mais repenicado....
Entretanto, quanto escrevia este post, recebi um telefonema da minha mãe - por momentos até pensei que estivesse a ler o que escrevo. No final, do telefonema:
- Pronto, filha, um beijinho. Até amanhã.
- Até amanhã.
- E um beijinho? Não mandas?
- Beijinho!!!!
- Pareço que tenho que te arrancar as coisas.... Nem ias mandar beijinhos...
- Oh isto é um telefone! Queres um beijinho, metes-te no carro e vens ter comigo.
- É muito longe.
- Pois. Mas é onde os verdadeiros beijinhos estão. Aqui não vale nada, isto é um telefonema.
- E não queres falar com a tua mãe ao telefone? Nunca estamos juntas, como é que ia saber de ti?
- Pronto. Toma lá mil beijos!!! Xau...
- beijinho, filha. Beijinho.
A minha mãe é uma beijoqueira. Não sei a quem saí assim mais poupada nisto dos beijos. E nos telefonemas.

20 comentários:

  1. Partilho da tua falta de paciência para os telefones. embora volta e meia a falar cm amigas que estão muito longe ainda gaste uma ou 2horinhas a saber/contar as novidades.
    mas isso de antes utilizar-mos muito o telefone deve-se ao facto de não haver toda esta parafernália das redes sociais e afins. logo a unica maneira de comunicar era via telefone. passei plo mesmo. =)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, mas com essas amigas que estão longe só temos o telefone, não é? Tem mesmo que ser!

      Eliminar
  2. Subscrevo na íntegra. O 'telefone' está banalizado, e o encanto que a nossa geração sentia, desvaneceu-se. É quase como a "Grândola", de tão usada virou vulgar e ameaça perder o simbolismo que a envolve.

    Não há nada que substitua um olhar, um sorriso, um toque...

    ResponderEliminar
  3. Concordo inteiramente contigo.
    Quando ainda adolescente não largava o telefone e era capaz de ficar horas e horas infinitas a falar com as amigas (quando, na maioria das vezes, tínhamos acabado de nos despedir no fim das aulas) sobre tudo e sobre nada.
    Com o passar dos anos confesso que gosto menos de falar ao telefone. Cada vez menos. Também porque os meus empregos me trouxeram muitas horas em telefonemas, nem sempre agradáveis, e porque sinto esta forma de contactar muito distante, pouco calorosa.
    Nada como o contacto ao vivo e a cores com as pessoas que queremos sempre por perto :)

    ndnan.blogspot.pt

    ResponderEliminar
  4. A mim aconteceu-me o mesmo, de tanto falar na adolescência agora cansei-me um bocado, passo parte do dia ao telefone em trabalho e não tenho muita pachorra para chamadas longas. Talvez isto mude quando formos mães ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, a minha mãe diz-me sempre que há coisas que só vou perceber quando for mãe...

      Eliminar
  5. Revejo-me em tudo!!! Lembro-me bem do meu pai a reclamar das horas ao telefone e acabar sempre com a piada de ser accionista dos TLP!

    ResponderEliminar
  6. A mim acontece-me exactamente o mesmo.
    Cada vez gosto menos de estar horas ao telefone, acabo por despachar as pessoas num instante hihi

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu também sinto que sou demasiado rápida. :/

      Eliminar
  7. Anónimo11:02

    Também já não tenho pachorra!!

    ResponderEliminar
  8. wordpimp11:36

    Aborrece-me profundamente e têm sempre pontaria para as piores alturas… :)

    ResponderEliminar
  9. Detesto falar ao telefone, detesto. 70% das chamadas nem atendo.

    ResponderEliminar
  10. Percebo perfeitamente. Muitas vezes quando o telefone toca nem atendo porque simplesmente nao me apetece nem tenho paciência para deitar conversa fora!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Vou começar a repensar as pessoas que me disserem que não ouviram os meus telefonemas. ;)

      Eliminar