quarta-feira, 3 de abril de 2013

Falaste comigo três vezes. Contaste?

Ela não conseguia dormir. O exame era no dia seguinte.
Queria chorar de nervos. Queria dançar de agitação. Queria meditar. Queria fazer avançar o relógio. Queria mais tempo. Estava o caos instalado dentro de si.
Ligou o computador. Uma janela do chat piscou. Era um colega com que tinha trocado duas ou três palavras, apenas. Sabia apenas que era mais velho e parecia muito simpático.
- Preparada?
- Não sei... Estou nervosa.
- Então transforma esse nervosismo em energia positiva. De certeza que vai correr bem!
- Obrigada. Espero que sim.
- Também vou estar lá, porque tenho exame a seguir a ti.
- A sério? Não sabia. Desculpa, que egoísta. Nem perguntei como é que tu estás!
- Estou óptimo. Estou a ouvir música, agora, para relaxar. Já estudei tudo.
- Eu devia fazer o mesmo! O que ouves?
- Isto - xxxxx, dos yyyyy. Conheces?
- Oh. Estás a brincar, não estás?
- Porquê, é assim tão má, a música?
- Não. De forma alguma! É apenas a minha música preferida. E ninguém - ninguém!!! - a conhece.
- Eu conheço.
- Impossível!! Fui eu que falei nela, de certeza.
- Falaste comigo três vezes.
- Contaste?
- Contei.
- Oh.
- E nunca falaste de música. Esta é "a" minha música.
- Mentira, é "a" minha música. A minha música preferida de sempre. E só eu conheço, mais ninguém.
Quando deram por ela, eram horas de fazer o exame. Cada um tinha dormido umas três horas. Mas foram mais calmos que nunca. Sem sono. Sem medos. Sem nervosismos. E correu bem. No final, foram jantar com um grupo de colegas. Beberam. Conversaram. Riram. Entreolharam-se. E cada um com a música a ecoar, baixinho, como uma banda sonora que só eles conseguiam ouvir. As pessoas foram saindo e ficaram apenas os dois. As horas passavam. Até que foram educadamente convidados a sair. E ficaram na rua, numa quente noite de Verão, a conversar até ser dia, sem sentir as horas passar, sempre com a música, baixinho, a ecoar como uma banda sonora que só eles podiam ouvir. "A" música de cada um deles. "A" música dos dois. Mil palavras podiam ter sido ditas, mas aquela música valeu logo por muito mais. Já não se queriam separar mais.

Ontem falava de música. Este é o poder da música. Consegue quebrar o gelo. Derreter corações. Aproximar pessoas. Ou transmitir mensagens que por vezes as palavras não conseguem.

Quanto àqueles dois, por muito exagerado que possa parecer, reza a história que aconteceu mesmo.

13 comentários:

  1. Adorei. =D

    Parece uma daquelas histórias saídas dos contos de fadas. (Ainda bem que elas ainda vão acontecendo)
    Quanto à música, concordo contigo tem um poder enorme. E, ainda bem que assim o é. Eu cá sou daquelas que não consigo viver sem música.
    Acho que me veio tipo código escrito no sangue, é daquelas coisas inegáveis. =D

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    1. Também acho que está de certa forma escrito no sangue. :)

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  2. que história bonita.. :) realmente a musica quebra gelo e inicia paixoes :D

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    1. Mary, pela forma como concordaste, parece-me que também terás alguma história para partilhar... Acertei? ;)

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  3. Não sei o que é mais bonito; se a história em si ou a forma como a escreveste :)

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    1. Vamos acreditar que é a história em si. ;)

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  4. Tenho a sorte de pensar que um dia (longínquo) em que tiver filhos, eles vão ter a melhor contadora de histórias por perto :)

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    1. Boa ou má, vão ter que ter sempre esta contadora por perto, sim! E espero dizer o mesmo de ti... talvez num dia (menos) longínquo também.

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  5. Anónimo19:56

    agora só falta uma coisa: qual era a música ?
    :)

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    1. É uma música melancólica dum francês qualquer. Eles eram um bocado para o esquisitos em termos de música...

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  6. Anónimo21:28

    qual é a musica??

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    1. Estou a ver que muitos querem uma história de amor assim! Mas se insistirem, eu conto, ok... ;)

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    2. Anabela20:14

      Conta!.. ;)

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