sexta-feira, 12 de abril de 2013

Flatulência

Apresento-vos um dos meus ódios de estimação: a palavra "flatulência". Talvez seja trauma dos jogos de Carnaval em criança, quando os rapazes brincavam com as bombinhas de mau cheiro, mas sei que sempre tive alguma repulsa pela palavra: parece-me demasiado grave e séria. Dramática até. Não tenho nada contra quem dá os seus "pums" em privado, não é isso - apesar de admitir que me faz alguma confusão saber que é comum entre homens estarem de tal forma à vontade que dão totalmente azo à sua liberdade de expressão "intestinal" e não têm qualquer pudor. Parece-me um bocado infantil, desculpem-me os visados. O que me faz realmente confusão é o tabu que esta palavra representa em situações formais.

É um tema totalmente tabu na sociedade, se virem bem. Dos últimos temas que ainda o são. Sempre que alguém se descuida em público, tem que inventar uma explicação. "Ai a cadeira está velha, faz tanto barulho!". Toda a gente pode perceber o que se passou, pode ser demasiado evidente, mas não é ainda socialmente aceite admitir-se. E, por isso, toda a gente tem dezenas de histórias para contar: uma aula em que o professor, a meio, deixou sair um silvo grave e prolongado e começou a tossir por cima; uma reunião importante em que um tímido assobio se ouviu, deixando os restantes desconcentrados e com vontade de rir, enquanto o causador do som falava mais alto para disfarçar; entre mil e outros exemplos que podia dar. Vemos nos filmes, vemos nas séries a que assistimos, até lemos nos livros (há um famoso em Portugal que retrata um episódio que envolveu um acender dum cigarro, para disfarçar) situações de puro embaraço social, em que o protagonista daquele momento sonoro/olfactivo tenta disfarçar. Sempre, sem excepção. Os casos em que o protagonista admite são sempre com os amigos ou com a cara-metade com a qual já se tem muita confiança.

Ora, ontem estava eu a jantar, à mesa com sete pessoas, e aconteceu isto: a meio, um sibilar. Primeiro tímido, depois confiante. Estranhei tamanha confiança, principalmente porque não vinha acompanhada de nenhuma desculpa. Passado um bocado, novo sibilar destemido. A mesa estava em silêncio. Procuravam-se culpados. Ninguém dizia nada. Ninguém estava envergonhado, sequer. Até que.... olho para debaixo da mesa e percebi tudo. A minha cadela estava a brincar com um novo brinquedo que encontrou pela casa. Sim, um desses brinquedos insuflados.
- És tu!!, gritei.
E aí, sim, todos riram, aliviados. E voltaram a jantar descansados. Não, não é aceite socialmente. É tabu. Cada um pode fazê-lo em casa, mas em público é alvo de censura. Quase como ser apanhado a roubar. Verdade?

10 comentários:

  1. "E aí, sim, todos riram, aliviados."
    Aliviados, uns mais do que outros ;)

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  2. Como diria um primo meu "estar no meio de multidões é muito bom... pode-se dar pums à vontade".

    Sinceramente não é coisa que me faça espécie se o fizerem ao pé de mim, tirando o cheiro claro. Deve ter sido de ter crescido com rapazes... :)

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    1. Eu prefiro que não façam, mas se acontecer, aconteceu. ;)

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  3. Anónimo14:49

    A mim parece-me mais infantil o não compreender o à vontade entre casais, sinceramente. Já dizia um primo meu, que esse é um grande passo na relação ;)
    Claro que em público, concordo consigo... mas isso é na nossa sociedade, há países, bem desenvolvidos até, aqui na Europa, em que é banal!

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    1. "Os casos em que o protagonista admite são (...) com a cara-metade com a qual já se tem muita confiança". Eu digo que é normal entre casais com confiança estarem à vontade e admitirem. Acho que interpretou mal as minhas palavras.

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    2. Anónimo15:43

      "apesar de admitir que me faz alguma confusão saber que é comum entre homens estarem de tal forma à vontade que dão totalmente azo à sua liberdade de expressão "intestinal" e não têm qualquer pudor. Parece-me um bocado infantil, desculpem-me os visados"
      Peço desculpa, devo andar muito mal, porque no meio desta frase, li algures "entre homens e mulheres"... devo estar maluca!!!!

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  4. Já eu não acho nada infantil não compreender essa falta de à vontade! Eu não compreendo porque parece-me que deve haver algum tipo de encantamento, não parece grande passo em relação nenhuma! A não ser que seja um passo atrás!

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    1. Anónimo15:47

      Já teve alguma relação duradoira e feliz??? questiono porque o encantamento mantém-se de inúmeras formas, mas não é dessa de certeza! Parece alguém inexperiente a falar...

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  5. Concordo! Se me derem a escolher, prefiro não ouvir ou cheirar. E porque não conseguimos, muitas vezes, controlar as vontades do nosso organismo, prefiro ficar toda entupida a largar-me em público. Tenho amigos que me dizem que é snobismo. Ideias!

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