terça-feira, 9 de abril de 2013

Quero adormecer e acordar com um Nobel ao meu lado.

Sou fã número um do Haruki Murakami há uns anos, sendo que a nossa relação (unilateral, claro, mas isso não interessa nada) se cimentou essencialmente em 2007. Nesse ano, no início do Verão, apanhei um susto enorme em cima duma mota, numa experiência que podia ter sido dramática, mas que felizmente não foi. No meio de tudo, o que me fazia mais confusão era ter perdido a independência e mobilidade durante uns tempos. Os meus pais já queriam cancelar as férias. No entanto, convenci-os de que o melhor para a minha rápida recuperação era sair de casa, pois não conseguia conceber a ideia de passar o Verão imobilizada dentro de quatro paredes. Passado quinze dias, estávamos todos em Vilamoura para as férias em família. Estava tudo igual? Não. Só andava com o auxílio das duas canadianas e estava toda ligada, pernas e um braço, tendo, portanto, movimentos mais característicos dum Robocop. De qualquer maneira, decidi que nada me ia deter e que ia aproveitar aquelas férias. Às vezes é uma questão de optar por ser feliz e lembro-me que ter tomado essa decisão conscientemente.

Tinha perdido massa muscular? Talvez. No entanto, 'decidi' que estava simplesmente mais magra. Andava de canadianas? Ok. Mas preferia pensar que era bom para tonificar os braços. Não podia andar sozinha na areia? Aproveitava para ser ajudada e ter mais mimo. Estava ligada? Tirava as ligaduras e ia na mesma para o mar. Aquilo havia de ser bom para cicatrizar tudo, pensava.O meu pai ajudava-me a ir ao mar. E, sim, nadei muito. Muito. Sentia-me livre dentro da água. Igual a antes. Não pensava. Quando regressei à areia, no primeiro dia, tivemos direito a camas sem sequer termos pedirmos. Cortesia dos donos do espaço. E ficámos ali nas camas até ao final das férias. Estava-se tão bem!

Os meus pais e a minha irmã ajudavam em tudo. E tive visitas de tantos amigos. Parecia que aquela praia tinha mel. E o mel deviam ser as canadianas. De qualquer maneira, às vezes cansava-me de tanta atenção e mandava toda a gente passear. Literalmente. Pedia para se divertirem e gozarem as férias. "Vão", insistia. "Vão dar uma volta, aproveitem para passear!", e eles iam. E iam pois sabiam que o tinha a ele, sempre ali. Estava sempre ali ao meu lado, qual fiel amigo e companheiro. Ele, o Murakami. Fez-me companhia todo esse Verão mais difícil e sinto-o com um verdadeiro amigo, desde então. Nesse Verão, nem conseguia ter pensamentos negativos, porque andava totalmente absorta nas histórias que lia dele. Se ficava um minuto sozinha, punha os phones e voltava à leitura. E era verdadeiramente feliz a lê-lo. Recentemente regressou à minha mesinha de cabeceira e tem continuamente regressado. Até porque tenho sempre saudades dos bons amigos.

Agora só me resta desejar que regresse à minha mesinha de cabeceira com o Nobel ganho. É meu grande amigo (a parte do unilateral é-me indiferente), e só desejo o melhor a quem também me fez tão bem. Espero que esteja para breve. Estou a torcer. Pode ser que seja já este ano. E fazia-me feliz também porque ia a primeira vez que conhecia na íntegra a obra dum autor Nobel da Literatura. Pela primeira vez ia sentir, com orgulho, que era um amigo meu a receber o prémio.

6 comentários:

  1. Também conheci este "nosso amigo" nestas últimas férias da Páscoa e não pude deixar de ficar com muito boa impressão do senhor! :D

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  2. “If you only read the books that everyone else is reading, you can only think what everyone else is thinking.”
    ― Haruki Murakami, Norwegian Wood

    Também sou fã ;)
    Beijinho

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  3. Detestei o primeiro livro que li dele, e tu sabes disso! Acho que a cultura japonesa ainda me é muito difícil de absorver. Contudo, quando fiz o interrail levei-o do meu lado e fez-me óptima companhia! Li o Norwegian Wood e adorei. Esses amigos são insubstituíveis ;)

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  4. Nunca li nenhum livro dele, mas esta na lista

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  5. Anónimo22:40

    Nunca li nada dele. Pode-me dar uma sugestão para começar? Uma coisa bem positiva de preferência :)

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