quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A arte de não educar

O filho teria uns 3 anos e passeava no supermercado ao colo do pai. “Burro! Burro!”, gritava-lhe. A mãe não gostou – “pede lá desculpa ao pai!!” – ouviu-se, em tom ríspido. “Burro! Burro!”, insistia o rapaz, cada vez com mais força. O pai ria-se e dava-lhe beijinhos “váaa, pede-me lá desculpa!!”. “Buuuurrro!! Buuuurrro!!”. E o riso continuava – “vá, estou à espera do pedido de desculpa!” – e mais um beijo. A mãe, chateada talvez, abanou a cabeça, como quem dá o caso por perdido, e foi escolher fruta.
Atrás deles, eu fazia por não ouvir a conversa alheia, mas era impossível evitar. E, sinceramente, apetecia-me agarrar o miúdo e dar-lhe dois berros. Então qual é a piada de chamar nomes ao pai em frente a toda a gente? Mas pior que isso estava a ser, para mim, o comportamento passivo do pai, que passava uma mensagem com as palavras e outra com os gestos. Pedia desculpas enquanto se ria e dava beijos. Que puto não ficaria confuso? Acho que esse é o problema de muitos pais: têm coragem com as palavras, mas temem afastar-se dos filhos, por isso vão dando mimos enquanto passam os raspanetes. Não foi a primeira vez que vi e com certeza não será a última. E faz-me tanta confusão…
Os meus pais nunca me bateram – até porque fui uma criança muito calma, sei disso – mas lembro-me bem dos olhares que me faziam quando me portava pior, principalmente depois da adolescência. Lembro-me das palavras duras que ouvi e das expressões faciais que as acompanhavam. Digam o que disserem, para mim, esses olhares ou tom de voz doíam tanto como dois estalos. Magoavam também, à sua maneira. Sei que a história que contei envolve uma criança e não um adolescente ou jovem adulto, mas não dizem que é de pequenino…? Que criança vai respeitar o pai se sabe que, mesmo a portar-se mal e a fazer asneiras, é brindado com mimos e beijos?... O cérebro vai é responder aos estímulos positivos dos gestos, ignorando as palavras, certo? Deviam inventar um Cesar Millan para crianças, até eu reservava já "consulta" para daqui a uns anos.

9 comentários:

  1. Anónimo19:06

    deves te achar mt boa e ma futura mae excelente. So sabe criticar. Que feio ainda por cima vindo de uma queque

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    1. As pessoas SÓ podem falar, critica e comentar aquilo que conhecem em profundidade, certo? Ainda bem que o Pasteur, Fleming, Hawking, Wright, Forde e afins não pensaram assim.

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  2. Olá, criança de 3 anos. Vejo que afinal já cresceste e aprendeste a comentar em blogs. ;)

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  3. Já há Cesars Millans por aí para crianças. E com programas de tv e tudo. Não em Portugal mas existe ;)

    Agora mais a sério, realmente são situações comuns e também difíceis de gerir. Embora racionalmente se saiba que se deve reagir de determinada maneira, nem sempre depois se consegue isso. Principalmente em espaços públicos. Se faz sentido? Nem por isso. Mas não é caso único, como se sabe. A personalidade conta muito nestas coisas e ter um filho não nos transforma necessariamente em bons educadores. É pena mas é assim. Mas pode aprender-se sempre, deve aprender-se sempre.

    Monica

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  4. E sim, aqui em Espanha há uma senhora chamada Rocío Ramos-Paúl que tem um programa muito giro chamado SuperNanny. Bem giro. Há putos marados da tola e pais ainda mais marados. E sim, falo porque SOU mãe, estou nesse direito ;)

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  5. Quando vejo cenas dessas dá-se-me aqui uma revolta nas entranhas...

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  6. Acredito que tenhas ficado surpresa com a atitude desse pai, eu própria assim pelo que descreveste, também discordo da atitude dele. Mas como mãe relativamente novata lembro-te que antes de termos filhos, criticamos e fazemos muitos julgamentos, atiramos para o ar muitas frases de "ah se fosse comigo...", e depois quando os temos engolimos muita coisa que dissemos e pensámos lol :)

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