quinta-feira, 7 de março de 2013

A compatibilidade de sermos incompatíveis

Somos muito diferentes um do outro na maior parte das coisas.
Ele é temerário.
Eu sou mais medricas sensata.
Ele diz tudo o que pensa, sem papas na língua, às vezes parece procurar confrontos.
Eu digo o que penso, mas evito discussões ao máximo.
Ele passa por pessoa mal-educada com uma personalidade muito forte.
Eu passo por calma.
Ele é o insensível racional.
Eu sou a sonhadora.
Ele é o prático.
Eu sou a perfeccionista.
Ele detesta o conceito de festivais e concertos, apesar de adorar música.
Eu acho que a música se vive nos festivais e concertos.
À primeira vista, podíamos chocar de forma irreversível. Mas o que tem acontecido, ao longo dos anos, é que vamos encaixando e vamo-nos completando.
Há uns dias, em plena mudança de casa, ele começou a resmungar com qualquer coisa, talvez porque queria despachar tudo e eu estava a tentar que tudo ficasse perfeito, com mais calma. Ele estava tão tão chato e resmungão que fui para a cama a pensar - confesso - "raio de homem, como é que o aturo". Acho que todos os casais passam por isto, às vezes. No dia seguinte, já me tinha esquecido daquele episódio de falta de paciência dele, até porque as brigas entre nós costumam durar o tempo da briga, apenas. No final das frases, é normal rirmo-nos e fazemos automaticamente as pazes. Um ou outro dá sempre o braço a torcer e a coisa morre logo ali. No entanto, neste caso, ele apareceu no dia a seguir directo das compras.
- Passei no Pingo Doce.
- Ok.
- Trouxe umas coisas para ti.
- Obrigada! O que trouxeste? Acho que não precisava de nada.
- Trouxe-te um chocolate que sei que adoras. E esta revista, que também sei que lês.
- Oh... Que bom!!
Comi o chocolate, sem pensar. Só passado uns minutos me lembrei da briga do dia anterior:
- Espera aí. Já percebi. Estás a compensar-me por teres sido parvo ontem?
- Não...
- Estás, estás!! Confessa!! Estás!
- Oh... Caí em mim... Foi só isso..., disse, meio envergonhado e a custar-lhe a admitir. Depois riu-se. Fogo, já me conheces.
Claro que conheço. E também não terá sido coincidência insistir comigo para irmos a um concerto de que eu tinha falado. E também não terá sido coincidência dizer-me, baixinho, ao ouvido, depois à noitinha:
- Amanhã tinha outro um jantar com os alemães. Já disse que não ia.
- Porquê? Vai!
- Não, quero jantar contigo.
E isto é, para mim, sermos compatíveis no meio de toda a nossa incompatibilidade.

6 comentários:

  1. catia14:37

    como eu conheço isso...e é tao bom!!!
    Ah! e já agora gosto muito da tua escrita, revejo-me em tantas coisas...parabéns!

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  2. Arrependeu-se ;)
    Bj S

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  3. Como costumo dizer os oposto atraem-se e também se completam =)

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  4. fofos! :)

    coisasquetaiseafins.blogspot.pt

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  5. Que lindo :')

    que sejam muito felizes!

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  6. Olá, adoro os teus posts são tão divertidos e têm sempre um fundo de verdade. Aqui em casa também se vive o mesmo dilema, somos tão diferentes. Espero que esteja tudo a correr bem. Felicidades e beijinhos. se quiseres ir ver o meu blog: http://ilovenewyorkcityy.blogspot.pt/

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