Por norma, ninguém se zanga, vamo-nos sentando alternadamente e cedemos até o lugar de forma educada.
Por norma é assim. Mas há excepções.
E a maior excepção que me vem muitas e muitas vezes à memória teve lugar numa viagem que era suposto ter sido a viagem mais romântica das nossas vidas.
Ora, viajámos para Buenos Aires, eu cheia de imagens românticas na cabeça dos dois a dançarmos apaixonadamente o tango, ele a sonhar com o Maradona e com a Bombonera. Quando lá chegámos, tudo o que eu tinha imaginado da cidade correspondia à realidade. Uma cidade feita de cor e magia, urbana, dinâmica, onde se respirava cultura, cheia de gente bonita, boa comida e boa música. Com a minha prima que lá vivia e outra amiga nossa, viajámos e aproveitámos para conhecer todos os bairros, desde o S. Telmo, a Palermo, à Boca... Tentámos viver como argentinos, comer nos sítios deles, sair nos sítios deles e ser mais locais que estrangeiros, muito graças à minha prima, que nos ia dando as melhores dicas.
No último dia, a minha prima tinha uma surpresa preparada: íamos dançar o tango com ela, que estava há um ano a ter aulas numa escola. Lá fomos então nós, eu com coraçõezinhos desenhados nos olhos, toda pirosa e lamechas, a agarrar-lhe a mão com força, da emoção. Quando chegámos, o professor tratou logo de gritar: "hoje quem lidera é o homem!". Ri-me e não levei a sério. Dancei muitos anos e estava preparada para ser um pouco "bossy" nessa matéria. Até que a música começou. Começámos a imitar os passos dos professores e eu sempre a comandar. Ele ia-me puxando, mas eu achava que era mais qualificada e então fazia ainda mais força nos passos.
De repente, ele larga-me "não ouviste?? o homem manda!!!".
Olhei para ele e vi um homem das cavernas. Só faltava a saia de pele de leopardo e uma moca na mão para ser mais primitivo.
- Ouviste??!! Eu mando!!!
Os corações fictícios dos meus olhos foram despedaçados.
- Estás a falar a sério?
- Sim. Hoje mando eu.
Deixei-o mandar. O melhor de tudo? A dança saiu na perfeição, sem erros, sem pés calcados. Ainda hoje me rio a lembrar-me disto. Realmente, às vezes custa ceder o poder, mas é preciso fazê-lo. E a dinâmica do casal funciona mil vezes melhor assim. Claro que ele me atirou dez mil vezes à cara o bem que dança e o bem que fiz em tê-lo deixado comandar. Mas ter alguém é mandar umas vezes e ceder noutras, certo? E a verdade é que acho que qualquer mulher gosta de ser mandada, por vezes.
E aí em casa, quem manda? ;)
Pelo pouco que sei do Tango, é sempre o homem a comandar não é? (a não ser que a diferença de técnica seja mesmo muito grande)
ResponderEliminarÉ, no tango é sempre o homem. Na vida é que não. :p
EliminarAs mulheres fazem-nos crer que nós mandamos, mas quem manda mesmo são elas.
ResponderEliminarVês como resumiste tudo numa frase? ;)
EliminarAqui em casa, somos os dois, umas vezes ele, outras eu.. vamos alternado os mandatos... é a melhor maneira para nao haver uma quebra na coligação :D
ResponderEliminarAqui em casa também vai sendo assim. Gostei da última frase. ;)
EliminarO meio termo é sempre o ideal :P
ResponderEliminarDeixo o meu namorado acreditar piamente que quem manda é ele, mas ele acaba sempre a dizer 'tu é que dás a última palavra, sim?'
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