sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O meu órgão e o Cebolo

Esqueci-me dum pormenor essencial ao referir a história do meu órgão.
Para quem, como eu, teve aulas de órgão no final dos anos 80, inícios dos anos 90, o que vou contar não será nenhuma novidade.
Mas se nunca passaram por isso, então preparem-se para uma grande revelação.
Com 8, 9, 10 anos nenhuma criança percebia o trocadilho por trás de nomes como 'órgão' ou 'flauta', por exemplo. Eram instrumentos musicais, ponto. E, por isso, nunca parei um segundo que fosse a analisar os nomes dos meus livros de música.
Apenas muito mais tarde, já estava eu pela primeira vez na faculdade a ser praxada, descobri a verdade que ali esteve sempre escondida ao pé de mim. A praxe pode não ter servido para mais nada, mas serviu para isto.
- Caloiroos!! Quem é que daqui sabe tocar algum instrumento?
(uma dúzia de dedos no ar)
- Quem aprendeu música pelos livros do Eurico Cebolo?
(um dedo no ar)
- Caloiraaaa!! Anda aqui.
(eu, muito solícita, lá fui. Como é que mais ninguém conhecia?)
- Que livros tiveste dele?
- A Flauta Mágica e o Órgão Mágico. (disse, num ápice, como quem sabe a resposta da pergunta para os 100.000 euros)
- Muito bem. Tens a certeza dos nomes?
- Sim, tenho a certeza que eram esses.
- E chamava-se Eurico Cebolo, o autor?
- Sim!
- Então vais conhecer o resto da bibliografia do teu mestre da música.
Deram-me dois livros dele para ler excertos em voz alta. E foi aí que percebi. Não é que o raio do homem tinha um vasto número de contos eróticos lançado, todos com trocadilhos manhosos e capas também bastante apelativas?
Juro que, nesse momento, a minha infância ficou para sempre perdida. Naquele dia perdi a minha inocência de menina e tornei-me mulher. Arrancaram-me um pedaço do coração. O 'meu' Eurico? O Eurico que me ensinou desde o 'Papagaio Loiro' até às 'Quatro Estações'?
Para quem não o conhecia, ficam aqui mais dados sobre este artista portuense: Eurico A. Cebolo. Podem deliciar-se com obras como "Incesto sem Pecado" ou o título, de muitíssimo bom gosto, "O Falo Perdido".
Se tiverem menos de 18 anos, não leiam, porque correm o risco de ficar traumatizados como eu fiquei. Não se nota? Passou mais duma década e nunca mais me esqueci daquele dia... Nunca mais... (voz grave)

17 comentários:

  1. LOLOLOL O que me foste lembrar! Tive (e tenho!) esse livro do órgão! =) Andei durante 5 anos a aprender e esses livros eram os meus melhores amigos! ihihihih

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    1. E não é assustador saber que o homem depois ia para casar escrever livros manhosos?

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  2. ri-me tanto a ler isto!! a verdade é que tb tenho esses livros, mas desconhecia a faceta erótica do homem!

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    1. Sabes, eu desconfiava da última página: trazia sempre imagens de mulheres semi-nuas e anunciava o próximo livro dele. ;)

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  3. Acho q é um mal geral. Os miúdos não têm (ou dantes não tinham!) maldade. Na minha turma, durante o Verão, fazíamos uma festa cujo outfit era fato-de-banho para toda a gente e andar tudo a correr no meu quintal à mangueirada uns aos outros. Chamavamos-lhe a festa da mangueira. Por isso vê... lol

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    1. ahahaha Obrigada por me teres feito rir, Cynthia! Demais, a festa da mangueira.

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  4. hahahahaha...jura?! que cena!!

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    1. Yeap. Os livros estão todos na net, para quem quiser procurar. :)

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  5. Também tenho um desses cá por casa! Bons tempos os da inocente infância ;)

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    1. Então vai lá consultar a última página do livro. ;)

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  6. Brutal, fiquei sem palavras! Caí neste blog não sei bem como... E agora ao ler este post fiquei de boca aberta, eu fui um dos que teve aulas de orgão e flauta com os livros desse senhor, e afinal ele tinha livros bem mais interessantes!!

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    1. É demais saber isto, não é? Principalmente para quem estudou por lá. :)

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    2. Estava a pensar dar umas aulas aos meus sobrinhos por esses livros que ainda guardo lá por casa, mas não vou olhar para eles da mesma maneira LOLOL

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  7. Aiii Pippa, descobri o blog há uns dias e já me ri bem com os teus posts, mas este tive mesmo de comentar, porque me fez regredir no tempo e soltar umas boas gargalhadas!

    Já tinha isto bem recalcado na memória e este post fez soar campainhas !
    Eu estudava piano em miúda e tinha aquela ideia de que o órgão era o primo pobre do piano (esse instrumento tão nobre), que só me fazia lembrar a missa (e todo um ideário fúnebre). E esse sentimento de superioridade musical foi agravado quando me deparei com os livros deste senhor pousados em cima do órgão da minha escola. Tão diferentes dos clássicos e decentes livros do Mozart e Bach pelos quais eu estudava!! Não só as capas eram uma cromalhice, com o senhor vestido à anos 80 (penso eu que era ele, rodeado do que eu imaginava ser a sua família), como na contracapa publicitava a sua vasta (e muito perversa) obra literária!
    Na altura ri-me a valer ao ler os títulos dos livros e respectivas sinopses - era pré-adolescente e só achei aquilo ridiculo e inusitado, mas se fosse hoje ia ficar chocadérrima e possivelmente traumatizada! Então o senhor ali a ensinar órgão às crianças, e depois escreve-me aquelas histórias, que, se bem me lembro, metiam padres e freiras, relações homossexuais e incestuosas?! Só consigo pensar nele como um Avô Cantigas de mente retorcida!

    Obrigada por este momento, Pippa! Fiquei fã!

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    1. O teu comentário podia estar integrado no meu post. Penso como tu relativamente ao que disseste sobre as diferenças entre o órgão e o piano, sobre as capas dos livros, e ainda o Avô Cantigas de mente retorcida... Gostei muito, mesmo. :) Vê se comentas mais, sim? Também fiquei fã do que li, até porque isto nem sempre é unilateral. ahah

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