segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença.

Eles amavam-se na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença. Na riqueza e na pobreza. Todos os dias das suas vidas.
Ela ria-se, ele ria-se também. Ela chorava, ele abraçava-a, com os olhos humedecidos.
Ela queria passear e aproveitar os dias, ele queria também e era feliz assim.
Ela estava doente, com dores de garganta, ele ia a correr à farmácia comprar-lhe medicamentos. Detestava vê-la com dores!
Ela ganhava muito bem, tinha um emprego de sonho. Ele tinha orgulho nela e falava dela aos amigos, com os olhos cheios de admiração.
Um dia, ela perdeu o emprego. O que aconteceu? Ninguém sabia ao certo. A empresa foi piorando os resultados, ano após ano, até que o fecho foi inevitável, sem que ninguém, contudo, o tivesse atempadamente antecipado. Caiu-lhe tudo, de repente. Não tinha salário. Não tinha grandes poupanças, porque tinha investido tudo no casamento. Não tinha perspectivas de arranjar outro emprego igual. Andava angustiada e repetia:
- Como é que agora vamos resolver a nossa vida?
- Tem calma, meu amor. Eu trabalho e sabes que aquilo que ganho chega para os dois. Não tens que te preocupar com nada. O casamento é isto: é amar-te nos bons e nos maus momentos.
Ela limpou as lágrimas e sorriu. No dia seguinte, enviou dez currículos. No dia a seguir a esse, vinte. Depois, trinta. Depois, quarenta. Não teve nunca respostas. A angústia aumentava, tal como os dias.
- Tens a certeza que conseguimos aguentar assim?
- Claro, querida. Confia em mim.
Os meses passavam.
Um dia, a roupa dele não estava passada a ferro. "Não passaste isto?", perguntou ele gentilmente. "Ainda não", disse ela. "Precisas para amanhã?". Não precisava. "Queria só confirmar se estava passado ou não, para arrumar na gaveta." Ela sorriu. Amavam-se muito.
Outro dia, ele reparou que o lixo estava cheio. "O lixo está cheio. Podias ter levado. Tiveste tanto tempo...", comentou ele, com uma voz suave, inocentemente. "Tens razão, levo agora.", respondeu-lhe ela, prontamente. E lá levou.
Outro dia, depois da mesa posta e jantar na mesa, ela pediu-lhe ajuda para arrumar a cozinha. "Dás-me aqui uma mão? Assim vou para o sofá contigo fazer-te companhia." Só que ela esqueceu-se que o clube dele jogava nesse instante. "Hey, ajudas-me?", insistiu. Nesse momento, ele transformou-se. Aqueles votos solenes lidos convictamente perante dezenas de pessoas foram transformados. Algumas palavras apagadas pelo tempo. O tempo transforma as memórias. Transforma discursos. Transforma convicções.
"Pedi-te ajuda ao almoço para pagar?? Não, pois não? Então cala-te e arruma!!"
Nesse momento, ela percebeu.
Ele amava o seu sorriso. As suas lágrimas. A sua alegria. Ou até as suas queixas. Amava o empenho dela no trabalho. Mas quando lhe tiraram o emprego, para ele, foi como se lhe tirassem a força, a garra, a energia e o carácter dela. Sem o trabalho, era apenas uma carcaça do que era antes. Sem luz no olhar, a pedir-lhe dinheiro para as compras, para a casa. Não. Ele não estava mais apaixonado e ela sabia. Passou-lhe à frente dos olhos, rapidamente, o filme dos últimos meses. A falta de interesse dele nela. A ausência de carinhos, de beijos, de abraços, de mimos. Não faziam amor há meses e, nas últimas vezes, ela sabia que ele nem estava 'ali'. O que já tinha chorado por causa disso...
A verdade caiu sobre ela, pesada e desconfortável como só a verdade pode ser. Fez as malas e saiu. Podia não ter dinheiro, mas tinha amor próprio. E esse amor próprio mantinha-se e havia de se manter para sempre conforme os votos. Todos os dias da sua vida.

7 comentários:

  1. Isto é verídico??

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    1. Não, felizmente não! Inspirei-me num pequeno relato para criar um drama de telenovela. Estava em modo dramático... Don't worry. :)

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  2. Há tantos exemplos desses hoje em dia que até fico triste só de ler este texto :|

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    1. Oh não é para ninguém ficar triste. Prometo que nos próximos dias vão ser só alegrias aqui. :)

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  3. Independentemente de o amor ter acabado, isso n justifica a perda do respeito pela outra pessoa, q é o q reflecte este texto.

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    1. Exactamente. O carinho e o respeito devem continuar sempre. Concordo contigo.

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  4. Imagino que sim. Eu até sou uma optimista, mas hoje saiu-me uma história mais dramática, porque sei que estes casos também existem... nem sempre são tudo rosas. :/

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