Desta vez, não se discutem diferenças sócio-culturais entre um americano e uma francesa. Brinca-se com o "rabo francês" e com o "menino americano", mas nove anos de convivência atenuaram - e bem - as trocas de galhardetes que envolviam clichés sobre o ser americano ou europeu. Não se discute também de forma tão intensa a realização pessoal e profissional, como aconteceu no segundo filme. Os nossos heróis estão adultos. Mais que um americano e uma francesa a quererem lutar pelos seus sonhos, querem saber amar-se. Querem saber viver um com o outro. Querem encaixar o amor que sentem nas suas vidas tão preenchidas com empregos, lides domésticas e duas filhas a tempo inteiro (mais um filho do outro lado do Oceano a deixar saudades). Querem voltar a ser aquele casal que saiu do comboio em Viena, conversou a noite toda e se apaixonou irreversivelmente. Querem voltar a ser aquele casal que se reencontrou em Paris, fechou as janelas do quarto e fez amor durante dois dias seguidos, até atenuar um pouco as saudades que sentiam.
Nove anos depois de ficarem juntos, o difícil não é responder a perguntas como "será ele o tal?". Ele é o tal. Ponto final. Respondido. O difícil agora é conciliar o conto de fadas sonhado com a vida real. O difícil é desligar o botão "rotina" e ligar o botão "paixão". A dado momento, ele desliga-lhe o telemóvel e quer arrancar-lhe o vestido. Ela liga o telemóvel. Ele beija-a. Ela encontra problemas existenciais, mesmo com o vestido semi-despido. Ele quer continuar. Ela sai de casa. Ele atira-se ao sofá, desesperado. Ela volta. Ele diz-lhe que é louca, mas que a ama. Ela faz um chá. E diz que já não o ama. Sai. Volta. Ele abre uma garrafa de vinho. Ela sai. Ele vai atrás. São loucos? Não. Estão desesperados. O amor entre um homem e uma mulher pode ser assim: louco. Desesperado. Ela pode querer um chá e ele preferir vinho. Ele pode querer o telemóvel desligado e ela preferir ligá-lo. Ele pode querer fazer amor todas as noites da mesma maneira e ela estar farta. Pode ser isto tudo e muito mais. O amor não é linear, nem é um "e viveram felizes para sempre". O amor é o que se vive depois dessa deixa. Depois de a tela se fechar e todos os espectadores saírem da sala de cinema. O amor é o ter que encontrar (sem nunca desistir) a felicidade no loooooongo "para sempre". Este filme é sobre o que acontece no momento em que todos os espectadores abandonam a sala, depois do final feliz. É sobre a realidade. O saber viver a dois. E, por mim, tinha trazido o Jesse e a Céline para casa, adoptava-os e ficava a conversar com eles ininterruptamente até ficar sem voz. São, sem dúvida, o meu casal preferido do cinema de sempre. E, por mim, podem voltar a cada nove anos.
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