Parte disto verificou-se: ganhei um maior gosto pela nossa Língua e consegui ler parte dos tais autores clássicos em Latim. Quanto à troca de impressões com o meu avô, este dava-me sempre 10 a 0, por isso, era mais um adquirir de conhecimentos que propriamente uma "troca" - eu não tinha nada para lhe dar de volta, com os meus parcos conhecimentos. No entanto, aquilo que me recordo com mais carinho das aulas de Latim, para além dos óptimos professores, apaixonados pela disciplina, e apaixonantes, é dos meus colegas de turma e dos textos hilariantes que resultavam das nossas tentativas de tradução do Latim.
A minha querida amiga e colega de carteira, a A., era das mais esforçadas da turma, mas o seu esforço colidia com o ódio que dizia sentir pelo Latim. "Odeio isto", dizia-me ela, aula sim, aula sim. "Já ninguém fala em Latim, o que me interessa o Cícero ou estas histórias?". No entanto, não desistia, até porque íamos ter exame nacional à disciplina e convinha estarmos preparadas. Um dia, depois de termos feito teste, o professor estava a entregar o respectivo teste corrigido a cada aluno e parou a meio.
- Bem, a entrega do próximo teste exige alguma solenidade. É o teste de uma aluna que, das duas, uma: ou entendeu todo o teor do texto em Latim e decidiu enveredar por uma tradução livre e magoada, tomando o partido da família real o assassinato da aldeia; ou simplesmente não entendeu de todo o texto, mas teve sorte porque eu achei a tradução bastante original e empolgada. A., com que ideia ficou do texto que leu?
- Bem, Professor, eu entendi que havia uma aldeia em que um porco fugiu e que, por isso, a população tentou apanhá-lo e acabou por matá-lo. No fim, comeram-no numa grande festa.
- Pois. De qualquer das formas dei-lhe positiva pelo esforço.
- Professor, se me permite a pergunta... Então a história não era essa?
- Não, A. Não sei onde foi buscar o porco. O texto era sobre um rei tirano que tentou conquistar uma população e que foi assassinado. No final, fez-se uma festa para comemorar. Foi apenas isso. Mas dei-lhe um valor extra pela indignação que sentiu e por ter chegado a insultar o rei.
Riso geral.
No fim, lá vimos juntas o texto original. Terá sido um "sui" qualquer que foi traduzido por ela para "suinus"(?)/ porco, já não estou certa. De qualquer das formas, sempre que se fala em reis ou reis tiranos ainda hoje, lembro-me da revoltada "matança do porco" que a minha amiga descreveu, partindo duma palavra mal traduzida, mas que tanta piada teve. E lembro-me da cara natural com que no fim do exame me disse "qual era o problema em matá-lo? Não vi mal nenhum nisso". Afinal era do porco que se tratava! Uff... A minha amiga continuava a ser um coração de ouro, não tinha desenvolvido subitamente um espírito homicida. Tinha-se apenas perdido algures na tradução.
também tenho Latim na faculdade e, realmente, o que nos dá mais gozo fazer são as traduções!
ResponderEliminarbeijinho
Sim. Ainda se chama departamento de Humanidade ou então Línguas e Humanidades :P
ResponderEliminarQue história engraçada :D
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