quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O dia em que vi o meu colega possuído.

Quando me inscrevi no mestrado, há quase um ano, tive a sorte de ter três colegas de trabalho (1, 2 e 3) como colegas de curso, pelo que ir às aulas todos os dias à noite, apesar de a idade ser agora outra, passou a ser quase como no liceu. Era mais fácil estar atenta e tinha mais vontade de participar do que durante a faculdade. E dessa forma, não me custou quase nada conciliar a vida profissional, no escritório, com o estudo e com os trabalhos nas 9 (!!) cadeiras que tive num semestre.
Tudo corria bem, sem sobressaltos.
Até que um dia, o meu colega 1 - que era quem eu conhecia há mais tempo e com quem conversava mais - comentou comigo que achava que o colega 2 (senhor nos seus 50 anos, que trabalhava noutra área e noutro andar do nosso edifício) seria gay. E deduzia que sim, porque o tinha apanhado a falar com muita emoção duma noite com um amigo numa determinada discoteca com fama de ser 'gay friendly' e por mais dois ou três indícios que já não me recordo.
- É gay, tenho a certeza.
- Não é nada. Até acho que é bastante mulherengo, se queres saber.
- Isso é para disfarçar!
- Não acredito. Ele passa a vida a comentar outras mulheres comigo. E já me elogiou várias vezes, para tua informação. Disse que eu me vestia bem e tinha pinta.
- É porque é gay! Está a elogiar como amigo.
- Oh. Cala-te.
No dia seguinte, fomos trabalhar. Até que, não satisfeito com a minha reacção, pôs-se a pé, a meio da manhã (nós trabalhávamos num open space), impulsionado por uma sede de verdade que o atingiu. Colocou-se de costas para o corredor e começou então a comentar com a colega 3, que trabalhava connosco, num tom mais alto e nervoso que era comum nele:
- Ouve lá, não achas que o 2 é gay?
- O 2?! Não, não acho.
- É gay! Ele até comentou que foi àquela discoteca, a ...
- Isso não quer dizer nada. Também já fui a sítios desses e não sou.
- Mas ele é. Eu sei. Até o amigo de que ele fala tem tiques. Aposto que é o namorado.
Eu intervim:
- Olha que o homem é divorciado e tem filhos. Não digas isso. Nem parece nada teu.
- É divorciado? Precisamente! Divorciou-se, porque não gosta de mulheres. Ele é gay! O 2 é gay. Nunca mais lhe dou boleia para o mestrado. Ainda se atira a mim! (já exaltado)
- Tem calma, parece que estás possuído pelo Demónio.
- Porque vocês não facilitam. Ele é tão, mas tão gay!!
Nesse momento, começámos a ver o colega 2 a chegar. O colega 1 estava de costas e continuava possuído pelo Demónio, sem se calar.
- Mais gay não podia ser!!
Nisto, o colega 2:
- Olá! Vim aqui perguntar-te se me podias dar boleia logo. Temos exame hoje, não é?
Silêncio. Quase que juro que cheguei a ouvir dois grilos ao longe, tão longo foi este silêncio. O colega 1 estava sem pinga de sangue, a tremer.
- Olááa.... Claaaro que siiiim. Eeeeu leeeevo-o.
- Obrigado! Até logo!, respondeu o 2, enquanto lhe passava a mão no braço, a sorrir.
Até hoje, ninguém sabe se o colega 2 ouviu aquilo ou não.
Mas o que é certo é que o 1 contou-nos, mais tarde, que aquela foi a pior viagem de carro da vida dele - não sabia se o 2 ia querer retaliar.

Conclusões:

  • O colega 1 nunca mais falou alto, sem se certificar que não tinha ninguém atrás. (salvo seja)
  • E, hoje em dia, é mais tolerante com todas as orientações sexuais. (pelo menos em público, que em privado, pode dizer o que quiser)

6 comentários:

  1. Melhor só se o "Olááa.... Claaaro que siiiim. Eeeeu leeeevo-o." tivesse sido dito com voz fininha e a servir de bandeja.

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  2. A homofobia é de facto gira de se ver...loooool

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  3. LOL uma lição para a vida. Para aprender a manter-se caladinho. Ahah

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  4. eheh o colega 1 deve ter ficado com uma cara =)

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  5. Bela história.

    homem sem blogue
    homemsemblogue.blogspot.pt

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