sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

"Tenho saudades"

Ele dizia-me que era a frase que mais me ouvia repetir. Eu negava-o veemente. Sempre.
Até que dei por mim a reparar nisso. Calei-me como um rato, mas um dia lá me saiu: "tinhas razão, estou sempre a dizer que tenho saudades de tudo... mas não gozes mais, porque estou a admitir, ok?"
Já não conseguia esconder nem a mim mesma.
- Vamos ao cinema? Tenho saudades de ir ao cinema.
- Fomos há duas semanas.
- Hmmm... pois... mas tenho saudades.
Ou então:
- Tenho saudades de ir à praia.
- Tenho saudades de andar de bicicleta.
- Tenho saudades da X. Tenho saudades da Y. Tenho saudades da Z.
- Tenho saudades de viajar.
- Tenho saudades dos meus pais.
- Tenho saudades de ir ao cinema. Ah, ok, já fui há duas semanas. ;)
Chego à conclusão que já nasci nostálgica. A verdade é que sou muito Portuguesa nisso. Mas pior ainda? Tenho, por vezes, saudades das coisas enquanto as vivo. Tenho quase sempre noção do fim, da limitação do tempo e da impossibilidade de agarrar eternamente os momentos.
Isto era ainda mais angustiante quando trabalhava longe das pessoas que mais gostava. Os Domingos eram dias dramáticos. Acordava já saudosista, a pensar no final do dia, com um nó na garganta impossível de desfazer. Como se vivesse já num tempo futuro e aquele acordar, aqueles momentos matinais fossem apenas uma memória de quem está a reviver o passado, à distância. Já sentiram isso? É horrível. Felizmente regressei para perto de todos e passei a conseguir agarrar melhor o tempo, a aproveitar cada segundo sem angústias, porque sei que amanhã não tenho que pegar nas malas e partir.
Hoje dei por mim a pensar neste defeito (_)/ particularidade(_)/ característica(_)* que me apontas. Diria até que me lembrei disto com saudades. Mas não vou dizer, para não me gozares.

Sabes que mais? Obrigada por me manteres no presente e chamares a atenção para o excesso de saudosismo. Obrigada por me agarrares os pés ao chão, com força. Obrigada por te rires quando dramatizo. Por te rires quando disparato. Por alinhares nos meus sonhos e acreditares comigo que vou ter mil anos para concretizar tudo aquilo a que me proponho. E, mais que isso, obrigada por me fazeres acreditar que, mesmo que dure mil anos, vais estar também tu mil anos do meu lado, a ouvir-me, a rir-te, a acreditar em mim e sempre a prender-me os pés ao chão para não voar e esvanecer-me nestes sonhos.

*assinalar com um "X" o correcto

10 comentários:

  1. Tens o Síndrome Fernando Pessoa!
    :)

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  2. Anónimo09:44

    Também sou muito assim. Extremamente portuguesa (:

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  3. E eu sou assim...tal e qual!

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  4. Guigas12:12

    E eu não tenho duvidas que vão durar mil anos

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  5. Identifico-me a 100%. Também gostava de ser diferente:(

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  6. Eu colocaria um X na característica e assino por baixo do texto porque também sou assim!

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  7. Eu também sou assim! Entendo-te tão bem, é horrivel! Quando ainda estou a viver algo, já estou angustiada por saber que vai acabar mais tarde ou mais cedo. Tento combater isso, mas não é fácil! :)

    Maria
    10cmdesaltoalto.blogspot.com

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  8. Também sou assim, a saudade parece que já se entranhou no ADN. Adorei o texto e a finalização não podia ser melhor. Ainda bem que há pessoas que tens sempre por perto para te mostrar que a saudade aí não passa de uma palavra. :) continua, gosto muito dos teus textos..

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  9. Também sou assim!

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  10. Também tenho esse defeito/particularidade/ caracteristica... Eu até consigo estar de férias e já ter saudades (por saber que elas passam 'tão ou mais rápido que um fim de semana'!

    Nice Blog!! ;)

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