quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Quanto custa a distância?

Esqueçam a tristeza, a solidão, as saudades. O que hoje quero perguntar é algo racional e objectivo: qual é o valor pelo qual aceitariam trabalhar longe da pessoa com quem estão?

Todos estamos rodeados por amigos ou familiares que emigraram. Eu posso dizer, por exemplo, que neste momento tenho a minha irmã longe de mim (e o que custa...). Amigas noutras cidades do país. Amigos espalhados pelo continente africano. Outros espalhados pela Europa. Outros a viver no outro lado do mundo. E o que levou cada um deles a viajar, e a aceitar propostas de emprego tão longe de tudo e todos? A ambição. A vontade de crescer e progredir na carreira. O querer ganhar mais. A certeza de que poderiam amealhar algum dinheiro no presente, para dessa forma, permitir um futuro melhor.

Só que, em muitos casos, não é o casal que vai. Em muitos casos, vai apenas um dos dois, aquele que é mais ambicioso ou aquele que está mais desesperado por não conseguir arranjar um emprego à altura das suas qualificações na cidade em que vivem. E, quando finalmente recebe uma proposta tentadora a quilómetros da cara-metade, qual é a primeira coisa que faz? Contas. Faz contas à vida: o salário que irá auferir no novo destino; a qualidade de vida que será proporcionada; as funções que se irá desempenhar... No final, se tudo for superior àquilo que se tem cá, aceita. Discutem previamente a dois, mas o outro não irá prendê-lo a uma vida que parece votada ao vazio profissional - "vai! é melhor para a tua carreira!", diz quem fica, com o coração apertado e um nó na garganta.

Mas afinal... Quanto custa a distância? Qual é o valor, em termos comparativos, a partir do qual devemos aceitar viver longe de quem mais gostamos? Por mil euros a mais devemos aceitar viver a três horas de distância? E por três mil euros a mais, podemos aceitar viver a seis horas de avião? E por cinco mil euros a mais, podemos aceitar viver a doze horas de avião? Afinal, se pensarmos bem, parece que a distância tem um valor. Cada quilómetro longe significa um euro a mais.

Só depois surge o derradeiro problema: e a relação? Será que, com tantas contas envolvidas, a relação sairá valorizada? Infelizmente, parece-me que não... E evoluirá de forma inversamente proporcional à conta bancária dos dois. Já disse aqui tudo o que penso sobre relações à distância. Sei que a ideia de "amor e uma cabana" funcionará para poucos - o dinheiro é importante e essencial para se programar a uma vida a dois e o nascimento dos filhos -, mas, por outro lado, acredito que a ideia de "duas camas separadas por um bilhete de avião, unidas apenas pelo Skype e uma conta bancária recheada" também fará poucos casais profundamente felizes.

9 comentários:

  1. Eu diria que se for temporariamente a coisa até aguenta, com por exemplo, uma pessoa ir para fora durante 2 anos, com vindas a Portugal regularmente, tudo para ganhar mais €4000 por mês extra.

    Agora, para fazer isto durante muito mais tempo acho que a relação mais tarde ou mais cedo vai esfriar.

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  2. Rita13:02

    Para mim o mais acutilante é o medo... o medo de ir e estragar tudo, se quando voltar já nada for igual? já alguma coisa entre os dois tenha mudado? Se tens a certeza de o q queres e sentes hoje, fores, e quando voltares podes ter arruinado o maior "tesouro" que tinhas na vida.... é isso que me preocupa.

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  3. O preço a pagar por não ir será no futuro em cada dia uma posdivel crise e rutura.
    Quando conecarem a voar os "Se..." e os varios cenarios "teria sido mais feliz, mais rica, mais verdadeira... mais e mais. Porque pensariamos caso houvesse razões ou não, que podíamos ter conseguido mais e melhor. Porque é da natureza do ser humano, nunca estar satisfeito.

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  4. Eu só aceitaria ir trabalhar para outro país se ganhasse o suficiente para vir a casa ou para Senhor Meu Moço me ir visitar de 15 em 15 dias.
    Claro que não posso dizer que desta água nunca beberei, e pode acontecer um dia pura e simplesmente não ter dinheiro nem para comer, não arranjar trabalho nem a limpar casas e ter de ir trabalhar para longe sem ganhar o suficiente para as visitas quinzenais... e acho que é isso que acontece a muitos dos que decidem abandonar a casa e o país à procura de melhor.

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  5. Sandra15:30

    A distância de um Abraço não tem preço!Já trabalhei em Roma, numa excelente oportunidade de trabalho e crescimento profissional durante 1 ano...e garanto que o que trouxe a mais na conta bancária não superou as saudades, a tristeza, a solidão e a vontade do abraço daquela pessoa que Amo! Creio que aproveitei tudo o que aquela maravilhosa cidade tinha para me oferecer, mas também contava os dias para poder adormecer ao lado dele, para o abraçar, rirmos sem parar...enfim, sermos simplesmente felizes! Não o voltaria a fazer...o dinheiro não é mesmo tudo...prefiro viver com pouco, mas nunca me faltar aquele abraço! :)
    Mas nunca digo nunca...se tivesse filhos para sustentar, se não tivesse dinheiro nem trabalho, se essa fosse a única solução, então partiria, mas tentaria sempre sempre levar o meu amor comigo!
    A distância é uma m****! A solidão, a tristeza, os momentos perdidos, os abraços que não foram dados...nada volta para trás...o tempo não volta...e vendo agora as coisas, teria preferido os mil abraços que não dei ao dinheiro que ganhei!
    Beijinho, Parabéns pelo blog.

    Sandra.

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  6. Francisco15:52

    Eu trabalho em Londres e a minha namorada trabalha actualmente em Lisboa. Namoramos ha quatro anos e ate agora tem corrido bem, mas 'e algo que nao funciona para toda a gente. Depende de personalidades, planos de vida e acima de tudo de mentalidade.

    Se ha uma coisa que percebi 'e que a decisao de ir trabalhar para fora de Portugal nao pode ser apenas feita a pensar em dinheiro. Tem que existir outros incentivos validos ou pre-existentes, como p. exe. curiosidade conhecer novas realidades, vontade de evoluir profissionalmente e de enriquecer a nivel pessoal. Sem isso rapidamente se entra em espirais negativas. O dinheiro nao basta no final do dia.

    Tambem depende do periodo de vida onde se encontram. Por exemplo, penso que para pessoas casadas ou com filhos, aceitar propostas para ir trabalhar fora de Pt deve ser um inferno. Ha que ter um timing para fazer estas coisas e de preferencia deve se optar por um periodo onde uma pessoa se possa dar ao luxo de ser um pouco individualista.



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  7. Estou nos Estados Unidos e o meu namorado em Portugal, se e facil? Nao, nao e... mas decidi faze-lo por ser uma oportunidade unica na vida vir trabalhar uns meses para aquela que dizem ser a melhor, ou das melhores universidades do mundo, e onde a investigacao e de ponta!Foi uma decisao a dois, claro que sei que mesmo que ele nao quisesse que eu viesse nunca me iria dizer... mas sei que me apoia e mesmo longe esta aqui perto de mim!
    Nao estou arrependida por o ter feito, ate porque sabia que eram por poucos meses! Nao e facil estar longe de quem gostamos, e para juntar a distancia, temos ainda uma diferenca horaria que torna ainda mais dificil a comunicacao... mas quero acreditar que no final vale a pena! Cresci como pessoa e tenho a certeza que esta experiencia vai ajudar a crescer ainda mais a relacao!
    Agora sei que emigrar sozinha de vez, nao e para mim... mas estar uns meses fora de vez em quando nao e isso que acaba com uma relacao!

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  8. Anónimo07:56

    Acho que se estão a esquecer que há muito boa gente que não está a emigrar porque simplesmente vão ganhar mais e porque a conta bancária vai ficar mais cheia. Há muito boa gente a emigrar para simplesmente ter um ordenado no final do mês, porque tem contas para pagar, despesas que não podem esperar! Se custa estarmos longe de quem gostamos? Custa...mas tudo na vida se ultrapassa. Sim, as saudades são muitas, custa muito, e dependendo para onde se emigra a situação pode custar ainda mais.
    Se temos portugueses a emigrar apenas porque vão ganhar muito mais do que ganham em Portugal? Temos, mas infelizmente são cada vez menos.
    Quando uma pessoa emigra porque precisa de dinheiro ao final do mês, a sensação de estar longe é diferente, porque é uma necessidade. Há momentos em que uma pessoa tem vontade de desistir de tudo, deixar tudo e voltar para casa e ir abraçar quem se gosta. Mas e depois?!
    Quanto às relações acabarem pela distância...acabam porque o amor e a vontade de estarem juntos afinal não era assim tão grande. Os meus pais são casados há mais de 40 anos, e viveram uma boa parte da vida deles separados por uma viagem de avião de 7horas e continuam juntos! A necessidade falou mais alto e eles tiveram de se adaptar às circunstâncias...mas estão juntos e não se imaginam um sem o outro. Portanto, quando oiço pessoas a queixarem-se por estarem uns 6meses longe da cara metade, sei perfeitamente que não sabem do que falam!

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  9. A distância custa muito, e, se calhar não há dinheiro que a pague.

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