terça-feira, 20 de agosto de 2013

Vai ser já hoje?

Não gosto de medos. Fobias. Traumas. Não gosto deles. Tal como ninguém gosta, certo? Irrita-me ter medo. Irrita-me sentir as mãos geladas, a transpirar, e sentir um aperto na barriga gigante, como se umas mãos invisíveis me asfixiassem em torno do estômago, de cada vez que entro num avião. Mas entro na mesma, tento rir-me perante o medo que sinto. Sai um riso amarelo e tremido, pois sai. Mas entro no avião e sigo com ele, céu fora. "O medo está em mim, o medo não existe, o medo não é real. O real é esta viagem de sonho e vou fazê-la", digo a mim mesma. Irritou-me ter sentido durante algum tempo as pernas instáveis, a tremer, de cada vez que via uma mota a passar. Já caí duma e sei o que dói. Mas voltei a andar. "Se houver justiça no mundo, ninguém cai duas vezes duma mota. Já tive a minha dose", repeti a mim mesma. E fui, agarrada ao mundo das probabilidades, que nem sequer domino, mas que nesse dia era meu amigo inseparável. Até o medo desaparecer outra vez. Operações? Anestesias gerais? O apertozinho na barriga. Mas siga. "A medicina evoluiu tanto, há que confiar nos médicos" é a lengalenga dita até à exaustão. Medos... Temos medo de tanta coisa... Eu já tive estes medos. Há quem tenha de animais. De alturas. De multidões. De espaços apertados. Mas temos medo do quê, afinal? Do avião? Da mota? Da sala de cirurgia? Dos animais? Das alturas? Das multidões? Dos espaços apertados? Não... Temos medo de não acordar. Medo da morte. E porque temos medo da morte? Uma vez li que o medo que temos não é da morte, mas do que ainda queremos viver. Do que temos pendente aqui. Do que queremos concretizar. Das palavras que temos por dizer. Dos beijos por dar. Dos abraços por sentir. Das viagens por fazer. Das cartas por escrever. Da marca que queremos deixar. Mas porquê adiar? Por que não viver já hoje...?

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