sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Sai uma arca frigorífica para a mesa 2

Acontece-me taaantas (demasiadas?) vezes: uma vontade enorme, gigante, incontrolável de congelar certos momentos, sensações ou imagens. Lembro-me das primeiras vezes em que o fiz: olhar para os meus pais num final de dia de praia (as nossas recordações de família sempre tiveram muita praia como cenário de fundo), vê-los dourados do sol, com o branco dos olhos ainda mais branco e o branco dos dentes em sorriso a dominar as suas caras, e pensar "quero que isto dure para sempre, esta juventude e alegria deles". Os anos passaram, algumas rugas vieram assinalar a passagem do tempo, mas felizmente a juventude é acima de tudo um estado de espírito e continuo a reviver imagens como esta muitas vezes. Depois aconteceu com a minha irmã: vê-la pequenina, toda ela gargalhadas e piadas precoces, olhinhos rasgados de chinezinha e uma voz doce, doce, ficar a fitá-la atentamente e a tirar fotografias imaginárias para guardar nos confins da minha memória - "não cresças, gosto de ti pequenina a encaixar tão bem nos meus abraços, com esses olhos de chinezinha que parecem admirar-me". O olhar dos irmãos novos é um olhar que pede protecção, ensinamento e é um olhar de confiança plena. Eu queria guardá-lo para mim. Mais tarde, foi o primeiro beijo. Lembro-me de o viver com a certeza da importância que aquele
momento teria para sempre na minha vida. Lembro-me de o viver em constantes flashs mentais, a tentar congelar tudo: a boca que não a minha a aproximar-se, o calor, o primeiro toque, as pernas a tremerem, o sentir algo húmido a tocar os meus lábios ("que
nojo!"), o não gostar em confronto com o "isto é suposto ser bom, não desistas", o gostar logo a seguir, o calor a subir à cabeça, a chuva a cair, o frio nas mãos. Depois, lembro-me do primeiro dia na faculdade, a sensação de ser adulta e ter que decorar tudo o que vivesse no primeiro dia - decorei. Decorei os cheiros, as cores, a confiança que sentia, e até o vermelho que encontrei a vaguear com o olhar pelo chão. "Sapatos vermelhos? Temos mulher confiante". Era a E. Conquistou-me com a cor, manteve-se amiga por tudo o resto.

Nestas férias, tenho sentido novamente essa necessidade de congelar tudo, como se soubesse que uma nova fase se aproxima. Têm sido os os sorrisos que vejo. Esta calma tão tranquilizante que sinto e que já não sentia há muito. Os banhos no mar ("vamos tirar tudo?") e a sensação de me perder do mundo. Os raios do sol a passearem negligentemente por mim. As rodas na praia. Os copos de vinho e o calor. As novas paisagens. O dar as mãos como duas crianças. Os amigos que contam confidências e fazem rir, porque afinal somos todos iguais e nem sabíamos. Os planos de futuro. Os sonhos. E a tranquilidade. Mas sei que isto vai mudar em breve. Sei, com uma certeza que eu própria não compreendo. Sei que  em breve vou ter saudades destas férias.
Muitas. Desta calma e doce acordar. Até lá, resta-me aproveitar cada momento que ainda falta.

4 comentários:

  1. sou tua nova seguidora ...adoreii o teu blog ;)

    Segue me tb : http://diariodecores.blogspot.pt/

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    Beijocas *-*

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  2. Anónimo16:40

    Etás gravida? Senti-me assim quando soube da minha gravidez

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  3. Anónimo15:38

    Tive de voltar a ler este post e apreciar cada linha. Sei o que estás a sentir, também o sinto! Também tive umas férias maravilhosas que vou mentalmente congelar para nunca mais me esquecer ;-) retenho do teu texto que "afinal somos todos iguais e nem sabíamos". Agora já sabemos ;-) ... R.

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