- E o teu livro...?
- Já acabei.
- Ok. Vamos lá. Aproveitamos e damos um mergulho.
- Sim! A água parece óptima.
E lá demos o nosso passeio pela praia, essa prática comum, lado-a-lado com o ler um livro, besuntar-nos de protector solar, jogar raquetas, dar uns mergulhos, ou simplesmente ficar a ver quem passa (há que admitir que 90% dedica-se maioritariamente a esta). A meio do passeio deparámo-nos com umas rochas que iam até ao mar, formando um muro que separava a praia onde estávamos da praia que existia depois.
- Avançamos?
- Sim, vamos ver que tal é a praia a seguir.
A praia a seguir parecia o paraíso: estava praticamente vazia, a areia era branca e fina, e tinha apenas uma ou outra toalha a pintar de cor aquele branco imenso. Ao longe, um duo de senhoras jogava raquetas. No mar, um senhor nadava bruços de forma muito compenetrada.
- Adoro esta praia! Amanhã temos que vir é para esta, não achas?
- Por mim, vimos.
Continuámos. Respirava-se paz. Cheirava-se a maresia. Ouvia-se apenas o bater das ondas. Lentas. Constantes. Ora preguiçosas. Ora enraivecidas. O duo feminino com as raquetas estava cada vez mais perto. Mas nem esta presença destoava da imagem de brancura e harmonia que os meus olhos viam e absorviam, maravilhados. Até que me apercebi que algo estava mal. Faltava cor. Faltava a cor das suas roupas!
- Oh... Eles estão todos... nus! Já reparaste?
- Pois estão. Então não viste que toda a gente nas toalhas está assim? É uma praia de nudistas. E o nadador aqui do lado também está nu.
Virei-me para a direita para ver o mar. Infelizmente, temo nunca mais esquecer esta imagem em toda a minha vida. Qual Mitch no Baywatch, a sair das águas agitadas de Los Angeles, o nosso "nadador"sexagenário saía em câmara lenta do mar. No entanto, se na série era a água e as mamas da Pamela que se agitavam, nesta imagem era todo o corpo do nadador - e sublinhe-se bem o todo. E o pior é que preferia não ter visto, mas fiquei fixada - a mente humana tem destas incongruências. Mais à frente, as duas mulheres, nos seus cinquenta anos, também jogavam em câmara lenta. Vi que uma tinha uma tatuagem de algo indecifrável, com ares de vegetação artística, nas costas, já meio apagada pelo tempo. Estava a reparar na tatuagem quando a bola fugiu, e foi a correr apanhá-la. E foi ver aquele perfil, outrora firme e sensual, agora apenas caído, a mover-se em ondas, como o mar.
- Isto é horrível. Parece um lar em que todos perderam as roupas.
- Mas pelo menos parecem todos muito felizes...
- O que é que estás a fazer?
- A tirar os calções. Em Roma, sê Romano.
- Está quieto.
- Nãao, tem que ser. E tu tens que tirar também. Pelo menos a parte de cima. Tem que ser. É uma ofensa para estas pessoas estares vestida. Já devias saber.
Não sei onde é que ele leu o "Manual de Boas Maneiras aplicado a Praia de Nudistas", porque já não é a primeira vez que me diz isto. Mas tão-pouco pensei nisso. Tirei dois micro-segundos a parte de cima do bikini, só para o calar. Eu já estou farta de saber que ele não tem pudores nenhuns, por isso, naquele momento, só queria mesmo que deixasse de insistir. Viemos embora. Passámos as rochas. Voltámos à "civilização". Até que vejo duas miúdas a jogarem raquetas. Em topless. Estas, sim, já com corpos firmes e pós-bisturis. Uma delas tinha também uma tatuagem no fundo das costas. E também um motivo "herbal" qualquer. Ele fixou-se naqueles movimentos como eu me fixei no nadador, uns minutos antes. Mas pelos motivos opostos, claro. Quanto a mim, naquele momento, não conseguia deixar de pensar que não tinha passado umas rochas. Tinha passado, isso sim, um portal do tempo. E estas duas amigas de corpos perfeitos e costas tatuadas iam ficar iguais às duas mulheres que tínhamos acabado de ver. Olhei-as, seguindo o olhar dele, com uma certa nostalgia por elas. Pensei na (rápida) passagem no tempo. E em como também eu vou ficar como as senhoras da praia depois das rochas. Pensamentos relativamente profundos, portanto. Até que ele me interrompe:
- Estás a pensar o mesmo que eu?
- Em que pensas?
- Que aquela exagerou no silicone. Assim não gosto.
Adoro estes momentos de (zero) sintonia. Mas é por isso que gosto dele. Põe-me os pés na terra.
- Pois exagerou. Daqui a um ano estão todas caídas.
- Quis pôr todo o stock que havia na clínica, agora deve estar arrependida.
E lá continuámos o passeio.
*Só me lembrei depois que também já tinha contado uma história muito parecida aqui. Acho que estou a ficar repetitiva. Ou então é a minha própria vida que se repete...
Pois é, pois é...a passagem do tempo esse implacável carrasco!
ResponderEliminarjinhosssss
Muito nos contas querida Pippa ***** R.
ResponderEliminarComo sempre excelente. Es a minha companhia à hora do almoço. E adoro ;)
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