segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Quero ser uma Maria vai com as outras. E falar da Judite. Posso??

Todos falam. Todos comentam. E eu também quero. Posso? Também quero falar - ainda que muuuuuiito atrasada, eu sei, mas só vi hoje com calma - da entrevista feita pela Judite Sousa ao Lorenzo Carvalho. Pois bem... A entrevista começa com uma pequena peça introdutória já a denunciar o estilo seguido posteriormente pela jornalista: a música de fundo escolhida é "Money, Money, Money", dos Abba (tãaaao subtil), e surge-nos primeiro um Lorenzo a sacar uns piões num Ferrari, e depois um grande plano do seu peito tatuado, junto da Pamela Anderson, enquanto o rodapé nos explica quem é o entrevistado de hoje "Lorenzo Carvalho - Milionário famoso pelas festas de luxo e pela paixão pela Ferrari". Vemos depois o Lorenzo a conduzir outro Ferrari, numa pista. E, por fim, as filas de jovens a tentarem entrar na discoteca onde celebrou o seu aniversário. Ouvimos também dizer que é piloto da Ferrari, que paga cerca de um milhão de euros para participar em cada corrida e que desembolsou largas centenas de milhares de euros "para ter convidadas à altura" na sua festa de aniversário. Ficamos ainda a saber que aspira entrar para a Fórmula 1, que a família tem negócios na área das pedras preciosas, que é extravagante e que desistiu de estudar aos 16 anos "apenas porque sim".

Estas são algumas frases da entrevista que me marcaram particularmente, pelo tom inquisitório da mesma (marcado a negrito):

Judite Sousa - Lorenzo, você tem noção de que estas imagens, que são reais, num país que está a atravessar um momento particularmente difícil nos últimos... quase quarenta anos... talvez o período mais difícil... causem alguma estupefacção e surpresa às pessoas? (...) Quem é você??
Lorenzo - (...) Com essas imagens que apareceu parece até que sou uma pessoa fútil, mas graças a Deus quem me conhece sabe que eu tenho muitos princípios de vida. (...) Queria corrigir: eu não paguei à Pamela Anderson, eu simplesmente convidei (...), paguei o bilhete, paguei a estadia...

- Familiares seus morreram em circunstâncias trágicas... (...)
L - Acidentes...
J, acelerada - Foram assassinados??
- Não... absolutamente....

J - Não se vê como pessoa fútil. Mas tem noção que qualquer pessoa, seja de que idade for, seja de que sexo for, seja de que origem for, vê a imagem de uma pessoa fútil?(...)
L - (resposta vaga em que aborda viagens e cultura)
J decide avançar e prefere comentar, isso sim, os acessórios de Lorenzo - (...) Você deve ter um relógio que... não sei... deve custar uns cinquenta mil euros. Você tem uma cruz de diamantes ao pescoço. Você está carregado de milhões de euros! Como é que você acha que as pessoas olham para si?

L - As pessoas quando me conhecem, as pessoas, os meus amigos, as pessoas que vão me conhecendo no dia-a-dia entendem que eu, na real, eu dou muito mais valor a uma boa amizade, uma amizade verdadeira, que é muito mais difícil de arrumar que vários milhões de euros. É....
J interrompe - Mas você é um verdadeiro consumista. Olha-se para si e percebe-se isso.
- Eu sou consumista como todas as pessoas que gostam das coisas boas. Quem pode ter - graças a Deus - uma qualidade de vida diferente, (...) vai querer uma coisa boa.

- (...) E fico chateado também por não poder ajudar todas as pessoas. (...)
J, nitidamente sem ter ligado àquela frase - Porque é que você não ajuda as pessoas que lhe pedem ajuda? (...)
- (...) Ajudo tudo o que eu posso ajudar e que me toca no meu coração e que eu possa fazer de sincero. (...). Tem uma empresa aqui em Portugal que realiza os sonhos das crianças em fase terminal (...) Eu realizo os sonhos das crianças (...) uma vez por mês. (...) Quero ter a possibilidade de ver as crianças - principalmente em fase terminal...
J, a interromper outra vez - Lorenzo, eu tenho dificuldade em perceber uma coisa... (...) Porque é que você não intervém no plano social (...)?
- Eu penso em contribuir. E eu acho que eu, já de estar em Portugal e fazer as minhas empresas e dar mais lugares de trabalho, ajudar algumas pessoas que eu ajudo, ajudar as crianças que eu já ajudo, eu acho que já estou contribuindo e fazendo mais do que a minha parte, e eu faço isso com o coração e vou continuar fazendo. (...)
J, mais uma vez, nitidamente sem ter ouvido uma palavra, ou a fingir que não ouviu - Não acha uma atitude egoísta? Da parte de quem tem muito?

- O dinheiro dá felicidade?
- O dinheiro dá felicidade, mas se você não tiver com quem gastar o seu dinheiro de sincero, ele não vale nada para mim.

- A vida não é rodada somente em volta a um dinheiro. (...) Tem vários valores que pelo menos eu dou muito mais valor que ao próprio dinheiro: a honestidade, a palavra...
J interrompe-o novamente e decide alterar de forma brusca o assunto - Você é muito excêntrico, você tem o corpo todo tatuado.

O Lorenzo corrige ainda e diz que não quer ser piloto da Fórmula 1, nem paga para participar nas corridas - são os patrocinadores que pagam.

Há anos que comento com as pessoas que me são mais próximas - especialmente com a minha mãe -, o quanto admiro o estilo da Judite no que ao vestuário e acessórios diz respeito. Acho-a uma senhora a vestir. E suspiro quando vejo as suas malas Chanel. Os seus botins Louboutins. Os seus vestidos Gucci. Etecetra, etcetra e tal. Porque posso não falar de moda aqui no blog, nem ser nenhuma entendida na matéria, mas, como qualquer mulher que se preze, gosto de ler sobre o tema (é sempre um doce para os olhos), e vou encontrando sempre na Judite os últimos modelos saídos das colecções, quer seja nos acessórios, quer seja nos próprios trapinhos. Mas sempre pensei "ok, é porque pode, o dinheiro é dela, faz o que entender". E custou-me mesmo ver alguém que sempre se vestiu melhor que qualquer mulher comum criticar tão duramente outro alguém apenas por ser... rico. Sei que já muita tinta correu sobre este assunto, e que o que aqui escrevo são apenas mais míseras achas a juntar a uma gigante fogueira, mas não resisti. Atenção: o Lorenzo não parece nenhuma inteligência rara. Não fala muito bem. Engasga-se todo. Diz aqueles lugares-comuns que todos os brasileiros dizem, há que assumi-lo. Algumas frases parecem só para "inglês ver". Não me convenceu com aquilo da Terra dos Sonhos, pois atrapalhou-se muito. Não sabia sequer qual era o seu sonho de vida. Não se soube vender, em resumo. E tenho a certeza que ninguém iria ficar a gostar particularmente dele, ou a achá-lo um supra-sumo se a entrevista fosse bem conduzida, sinceramente. Ou seja, se fizessem a entrevista de forma isenta, desapaixonada e o deixassem a falar sozinho algum tempo, tenho a certeza que poucos ficariam a adorar o Lorenzo. Iam achá-lo bom rapaz - ok - mas realmente excêntrico, e ninguém iria perder mais um minuto a falar dele ou defendê-lo. Com a atitude inquisitória da Judite Sousa, no entanto, gerou-se um manto de gente a sair em defesa dele. Era desnecessário. Foi desnecessário. Cada pergunta. Cada tom. Cada interrupção. Cada comentário acusador.

8 comentários:

  1. A mulher anda desanimada com a vida e decidiu descarregar no rapaz...

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  2. Anónimo21:42

    Foi péssimo! Vi em directo e mudei de canal com vergonha alheia.

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  3. Não sei se foi decisão dela conduzir assim a entrevista ou se lhe impuseram, de qualquer das formas achei muito mau....até a postura dela sentada na cadeira....mas tb não precisa de se fazer um escândalo nacional à conta disto ;)

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  4. Foi mau demais.

    homem sem blogue
    homemsemblogue.blogspot.pt

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  5. Francisco12:20

    Mas porque raio 'e que esse miudo foi entrevistado num telejornal? Alguem me explica isto? Sao nestas pequenas coisas que se percebe que Portugal 'e infelizmente ainda uma aldeia..

    Fica toda a gente em alvoroco com coisas tao parvas, parece nunca viram nada, basta um miudo aparecer com carros de luxo e com um estilo de vida mais excentrico e logo uma coisa estranhissima! A entrevistadora fez o seu papel como 'e obvio.. o tom 'e determinado em funcao das audiencias e pronto, la exploraram o angulo da crise, aparentemente funciona nao 'e?

    Mas enfim, isto para mim 'e tudo uma parolada horrivel.

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  6. ""ok, é porque pode, o dinheiro é dela, faz o que entender".
    Não, não pode, quem trabalhou num canal publico durante mais de 20 anos e a quem trabalhadores como eu pagaram o salário, não não pode quando é a primeira a "gozar" com colegas dela que ganham 600 euros e lhes diz com aquele ar de gozo fétido que tem "trago o teu salário nos pés."

    Não, não pode Pippa.

    jinhossssssss

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    1. Então, Suri... mas o dinheiro era dela. Podia ser um salário exagerado, mas pagavam, certo? Não roubou nada a ninguém. Trabalhava e pagavam-lhe X. Podemos culpar quem pagou, e a quantia que pagou, mas não acho sensato apontar o dedo a quem recebe, não achas? Quem me dera a mim...

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    2. Francisco13:30

      Ah Portugal, que saudades.. haha. Devo dizer que Portugal 'e dos poucos paises europeus onde pessoas que realmente ganham dinheiro sao um alvo a abater. 'E que no resto dos paises, sao tidas como um exemplo, uma aspiracao, uma razao para trabalhar mais para um dia chegar aquela posicao. Em Portugal, o ppl fica-se pela frustracao e negatividade e depois ficam mto espantados quando nao saem da cepa torta.

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