sábado, 11 de maio de 2013

Acordei com a música na cabeça. Da dança.

A nossa única experiência com a dança tinha sido já há uns anos (contada aqui) e tinha começado mal, com uma disputa pelo poder. Por isso, quando decidimos, recentemente, marcar algumas aulas de dança, confesso que fui à primeira aula um pouco a medo e com as expectativas muiiiito em baixo. Apesar de ele me contar que teve aulas de dança no colégio (eram obrigatórias, pelos vistos), eu sempre me vi a mim como a expert dos dois. E estava preparada para ter que perder muito tempo a ensiná-lo e a explicar os passos com calma. Chegámos, conhecemos os professores, ouvimos a música e assistimos depois à coreografia toda que tinha sido preparada para nós. A meio, lembro-me de olhar para ele e vê-lo muito atento. Sorri com ternura, como quem olha para uma criança a tentar aprender a escrever pela primeira vez. Só não sabia o longe que estava da realidade.

Começámos. Braços em posição. Costas direitas. Mão na mão. Distância assegurada. A música começou. O que aconteceu novamente? Avançámos em uníssono, ao mesmo ritmo. Cada um fez o seu passo, direitinho. Primeiro uma parte da dança. Depois a segunda. A terceira. Até conseguirmos reproduzir toda a reprografia. Uma vez. Outra vez. Impecável. Sem erros, praticamente. Na segunda aula aconteceu o mesmo. Os professores optaram por ensinar nova coreografia noutro estilo de dança. Chegámos ao fim a fazer a coreografia direitinho. Na terceira aula, nova coreografia em novo estilo.

Hoje acordei com uma destas músicas na cabeça. Vim ao computador a correr e vi os vídeos que os professores nos enviaram - as aulas eram gravadas, para repetirmos em casa, se quiséssemos, e aprendermos com os erros. Não sei se a nossa relação é o que a dança reflecte, mas a verdade é que nos vejo em harmonia, mãos entrelaçadas, a seguir os passos em uníssono, completamente transformados numa só massa dançante. De repente, vejo-me a atirar para trás, a cabeça e as costas dobram-se completamente e ele segura-me com os braços. A professora ri-se. Muito. No fim, bate palmas e oiço-a dizer-me "confia mesmo nele, não confia? é raro ver alguém atirar-se para trás dessa maneira. geralmente têm medo de cair". Digo-lhe que sim. Que confio. Posso ser um pouco possessiva, como um anónimo qualquer me disse no outro dia. Mas confio. E foi só por isso que já resistimos à relação à distância, durante demasiado tempo. Porque, apesar de estarmos longe, sentia que seguíamos juntos, mão na mão, ao mesmo ritmo e a dançar a mesma coreografia. E sentia que podia cair a meio que ele estaria sempre lá a impedir-me de atingir o chão e magoar-me. E vice-versa.

7 comentários:

  1. Que bom que a vossa relação é assim =)

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  2. E agora todos os comentadores em uníssono: "Queremos ver os vídeos. Queremos ver os vídeos. Mostra! Mostra!"

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    1. Cláudia Sousa15:32

      "Queremos ver os vídeos. Queremos ver os vídeos. Mostra! Mostra!" xD

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  3. "Queremos ver os videos" :=)

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  4. Anónimo18:41

    Pippa, por curiosidade quanto tempo resistiram à distância?
    Vivo uma há mais de um ano e é terrível. Já tentámos viver no mesmo país, não conseguimos (eu vivo em portugal, ele em espanha, ambos em crescente crise sem oportunidade de emprego). Já tentámos não stressar com a distância e encurtá-la com o máximo viagens possíveis, acusámos imensa pressão. Já tentámos acabar a relação, cada um seguir a sua vida e novamente, não conseguimos.

    Estou encurralada, sem saber o que fazer/como fazer. Tudo isto é doloroso e desgastante. Daí a minha pergunta, por curiosidade, pois a sua história teve um final feliz.

    Raquel

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  5. Anónimo06:49

    Amar é sintonia.

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  6. Anónimo16:42

    Bonito texto, gostei!

    Ass. O anónimo qualquer.

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