É adormecermos com a orelha a ferver encostado ao telemóvel e os pés frios, sem ninguém a aquecê-los.
É sermos abraçadas por mil palavras de conforto enquanto os braços pendem, sozinhos, no sofá, sem força para mudar no comando o canal de televisão.
É desejar "bom jantar", enquanto pomos um único prato na mesa e nos sentamos.
É sussurrar "boa noite", enquanto colocamos uma única almofada na cama, para dormir.
É dizer "bom dia", enquanto abrimos os olhos e tentamos enfrentar a solidão e a tristeza do quarto.
Amar alguém à distância é saber que está sempre ali alguém. Só esse alguém está a cem, a trezentos ou a três mil quilómetros. Amar alguém à distância é viver cada vida numa tela gigante, separada por uma linha a meio que nunca permite que as duas imagens se intersectem. É um viver individual que aspira ao viver a dois. É um "eu" que deseja muito ser um "nós".
Amar alguém à distância é amar sozinho. É duro. Dói. E sim, já passei por isso. Já acordei angustiada, com um aperto gigante no coração. Já senti as mãos vazias, quando precisava de as dar. Já senti os pés frios, apesar de a orelha estar a latejar com o calor do telemóvel. Já fui abraçada com palavras, quando os meus braços não tinham sequer força para pegar no comando. Já desejei "bom jantar" enquanto olhava o meu único prato na mesa. Já sussurrei "boa noite" e a seguir deitei-me na almofada, triste e só. Já disse "bom dia" enquanto o peso da solidão me caía em cima.
Amar à distância para mim é assinar uma declaração de infelicidade. "Li e aceito as cláusulas do contrato. Opto por ser infeliz." E pode dar para toda a gente. Mas para mim não dá. Não deu. Preferia adormecer até ao fim da vida com um ressonar de 100 decibeis. Desde que fosse o ressonar dele. (E felizmente nem ressona). Acho que a única vantagem que, para mim, o amor à distância teve é que, em dias como este, olho para o lado, enquanto escrevo, e penso como é bom ele estar aqui. E só eu sei o quanto sinto esta felicidade que me consome e me preenche. Está aqui bem junto a mim. Como é bom...
Este post aparece aqui mesmo depois de ter comentado entre amigos que para muitos é uma questão de hábito, mas nunca nos habituamos...falando por mim, acabei por me conformar com a nossa distância. Estou naquela fase em que me sinto super cansada de estarmos longe, a suspirar nos fins-de-semana em que não podemos estar juntos...e a aspirar por Julho, e que traga boas noticias por favor!
ResponderEliminarBeijinhos Pippa!
Ja vive assim durante 9 meses...em que o skype era o mlhor amigo! As despedidas no aeroporto pareciam que me tiravam bocados,passava horas a chorar .... O calendário todo riscado de cortar os dias para nos vermos! Mas, quando o amor é verdadeiro sobrevive a tudo e posso dizer que mesmo com a distancia foi um ano cheio de emoções e de novos lugares!
ResponderEliminarAgora revolvi seguir o amor...mas estou longe do amor da familia...nunca se pode ter tudo...
Vivi assim durante 4 meses e meio e não foi nada fácil. Não gostava de repetir a experiência, mas se tiver de ser, acho que aguento novamente.
ResponderEliminarMas é extremamente complicado gerir o amor à distância!
Tenho amado à distância durante esta semana e sei o que doí, o que vale é que domingo já deixa de ser à distância...
ResponderEliminarNao gostei nada destas palavras visto que estou a começar um relação à distancia, hoje não foste nada inspiradora Pippa (mas pronto, noutras vezes compensas) :p
ResponderEliminarPois eu vivi assim 14 anos... de um casamento em que ele saia de manha bem cedo e chegava à noite, bem tarde, sem nunca jantar em casa, com fins de semana programados com muita, muita antecedência, senão nem pensar,ter apenas o Domingo (e partilhado entre filho e pais...) com um filho, que também viveu (e vive) esta "distância" (apesar de tudo sempre foi um pai maravilhoso). A medicina é uma doutrina, dizia-me...para ser o melhor, para ganhar muito, enfim, por tudo. Aceitei sempre, claro que sim, é o teu sonho.Foi assim desde o primeiro dia de casada. Se valeu a pena? Claro que não. Hoje isso acabou, não porque ele tenha decidido reduzir o tempo de trabalho, mas porque a distância acabou por resolver a situação, para sempre... Se eu continuaria a aceitar aquela vida? Talvez... o coração tem razões que a própria razão desconhece. Se aconselho? De forma nenhuma. É como dizes, sem tirar nem pôr. Assinas um papel de infelicidade, e de infidelidade...
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