Depois havia também o Euzebiozinho. Representava a educação tradicional Portuguesa: superprotegido pela mãe, abafado em roupas, cresceu a decorar poemas, o catequismo e a Cartilha, e ainda estudou Latim. A consequência foi tornar-se um adulto melancólico, sisudo e triste. Fisicamente era descrito como tísico. Tornou-se um adulto corrupto, como o Dâmaso.
E estas personagens vêm a propósito duma conversa que tive ontem com uma amiga. Falávamos sobre o facto de Eça estar bastante à frente do seu tempo. Quantos Dâmasos ou Euzebiozinhos conhecemos ainda? Quem não conhece aquele "Dâmaso" que decide estudar na cidade, vindo duma terra mais pequena, e que deseja ardentemente ser "alguém"? Muitas vezes começam logo na faculdade: fazem parte da associação, são membros activos, apelam-nos ao voto. Depois, transitam para a política. O perfil mantém-se. Ligam-nos apenas a pedir um voto. Marcam café somente para nos apresentar as vantagens de entrarmos no partido. Enchem-nos a caixa de email com as propostas eleitorais. De repente, começam a aprimorar o vestuário. Por vezes deixam crescer alguma pelugem facial, para demonstrar a maturidade. Encontramo-los em bons sítios a jantar. Perguntamos pelo trabalho. Percebemos que apenas vivem daquilo. E que esperam o dia em que alguém o convide para integrar a sua empresa. Não têm pudor em assumir que procuram um "tacho".
Quem não conhece aquele "Euzebiozinho" enfezado, super ligado aos pais, frágil e com ar melancólico, que acaba por se tornar também um adulto corrupto, sem problemas em aceitar alguma compensação financeira em troca de um favor?
Ontem discutíamos isto e acabámos a rir a pensar que os piores serão mesmo os "híbridos": aqueles com características dos dois. Ora façam lá um esforço e vejam se não conhecem tantos assim. Acho que é por isto que sempre adorei o Eça.
Quem não conhece aquele "Euzebiozinho" enfezado, super ligado aos pais, frágil e com ar melancólico, que acaba por se tornar também um adulto corrupto, sem problemas em aceitar alguma compensação financeira em troca de um favor?
Ontem discutíamos isto e acabámos a rir a pensar que os piores serão mesmo os "híbridos": aqueles com características dos dois. Ora façam lá um esforço e vejam se não conhecem tantos assim. Acho que é por isto que sempre adorei o Eça.
Também sempre adorei o Eça. Talvez seja por isso mesmo... Conhece mesmo pessoas assim, credo!
ResponderEliminarO Eça estava mesmo à frente do seu tempo. Soubessem as pessoas e corriam essa gente à paulada =P
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EliminarFujo a sete pés de gente assim!
ResponderEliminarCarla Nunes
Adoro o Eça ..é duma actualidade desarmante, acabei de reler os Maias ( pois a minha filha mais velha estava a ler para Português e resolvi fazer-lhe companhia), quantos Dâmasos Salcede não há por ai...e no Governo consigo identificar uns tantos ( e no anterior nem falo)...enfim este pais muda pouco ! beijos
ResponderEliminaro Eça de Queiroz não estava a frente do seu tempo, porque no seu tempo havia estas personagens.. ou seja, ele fazia um retrato da sociedade do eu tempo. o drama é estas figuras ainda existirem. no fundo, nós é que estamos atrás do nosso tempo.
ResponderEliminarAi que gargalhada!! Acabei de visualizar um Dâmaso igualzinho a esse que descreves, até deixou crescer pelos no peito e tudo! :D
ResponderEliminarO Eça foi, é e será sempre o melhor escritor do universo. Estou cheia de pena de não ter ido a Tormes no fim-de-semana passado. Fica para o Verão.
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