terça-feira, 28 de maio de 2013

(não) Sei o que fizeste na última noite.*

Conhecem-se desde a faculdade. São um casal, mas gostam de dizer, com assumido orgulho, que são também os melhores amigos um do outro. Conversam sempre imenso no final do dia. Cada um quer sempre saber tudo sobre o dia do outro e tudo lhes interessa. Cortam os legumes, temperam a carne ou põem a mesa juntos. São uma equipa. E bem eficaz. Sentem-se ambos completos. Percebem-se um ao outro com um simples olhar.

Um dia, ela conhece, numa festa da empresa onde ele trabalha, a nova colega dele. Morena, cheia de curvas perigosas, olhar desafiador e sorriso de quem consegue tudo o que quer. Tens uma colega nova? Sim. Não me disseste nada. E contas-me sempre tudo. Não calhou. Ele desculpa-se. Mas o olhar mente. Foste com ela na semana passada naquela viagem de trabalho? Fui. O olhar dele foge.

Passado uns dias, em casa, ele diz-lhe que vai ter que passar dois dias fora. Em trabalho, novamente. Ela vai? Vai, sim. Vamos três. Vão. Ela fica sozinha por dois dias. Entregue a si e aos seus pensamentos negros, sabendo que ele está bem longe perto da tentação. Decide sair de casa e espairecer.
- Hey!, gritam.
- Oh... Por aqui? Mas tu vives do outro lado do mundo.
- Voltei.
- Oh... De vez?
- Sim. Conto-te tudo ao jantar. Queres jantar?
- Sim, claro!
Aceita jantar. Ele? Uma antiga paixão que não deu certo. A única pessoa, para além do marido, que fez bater mais forte o seu coração.
- Nem acredito que estou contigo. Isto é real??
- É. Belisca-me.
- Estás igual.
- Também tu.
- Relembra-me porque é que entre nós as coisas não resultaram.
- Mau timing. E a distância.
- Ai a distância...
- Essa foi a tua desculpa.
- Foi verdade. Não imaginas o quanto custou vir embora.
- Não deve ter custado nada! Nem um bilhete deixaste.
- Não havia bilhetes onde coubesse tudo o que tinha para te dizer.
- Tretas. Olha, um brinde a nós adultos. Olha para ti, de aliança e toda senhora de si.
- Oh. Que saudades que tinha tuas.
E ali ficaram toda a noite a conversar. A recordar. O vinho a subir. Os casacos a cederem ao calor. Aos mãos a tocarem-se por tudo e por nada. Os olhares que nada mais viam. O restaurante fechou. Saíram.
- Eu seguro-te. Estás trôpega.
E foram, bem encostados. Ele a cheirar-lhe o cabelo, qual drogado a sair da ressaca. Ela a relembrar-se do peito largo dele. Não apetecia largar, era viciante.
- Vais contar ao teu marido sobre esta noite?
Ela não sabia. Ele deixou-a em casa. Deu-lhe um beijo bem perto da boca. Era um atrevido. E até amanhã. Ela subiu e sonhou que, por uma noite, aquela almofada era o peito largo dele. Toda ela eram saudades.

A dois mil quilómetros dali, ele ia para a cama com a colega. Mal falaram, foi atracção fatal.
- Esquece que isto aconteceu, ok? Foi do álcool. E foi uma cena física. Esquece por favor. Sou casado.
Foi dormir. Sonhou com a mulher e morreu de saudades dela. Estava arrependido. Que disparate que tinha acabado de fazer. Nem gostava assim tanto da colega!

No dia seguinte, o casal reencontrou-se. Ele trouxe flores, revistas do aeroporto, chocolates e um perfume. Abraçou-a e sussurrou-lhe um "amo-te". Ela sorriu, com um olhar triste, e disse apenas "temos de falar".

*História baseada neste filme, cuja história adoro, e que tem o Guillaume Canet, actor e realizador interessantíssimo.

6 comentários:

  1. Oh, gostei tanto desse filme.

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  2. Já vi o filme. Acho uma história bem real e frequente por acaso....

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  3. Muito giro! Acho que vi esse filme é de facto muuuuito diferente a forma como uma mulher e um homem gerem as emoções :)
    Bj S

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  4. Dos meus filmes preferidos!

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  5. Não conheço o filme, mas fiquei curiosa

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