O ginásio. Ginásio? Sim, o ginásio.

É oficial: reinscrevi-me no ginásio (mesmo sendo Maio e estar bom tempo para correr, eu sei), com direito a avaliação física, plano de treinos e consulta de nutrição (essa parte vai ser amanhã). Cheguei lá, disse que me queria inscrever e a menina da recepção riu-se logo:

- Eu conheço-a! Andava aqui, não andava?

- Andava, sim.

- E vinha muito. Porque deixou de vir?

Gostei da preocupação maternal/ comercial/ monetária. Lá conversámos um bocadinho. Deu-me a toalha. Fui para a passadeira, peguei nos phones, escolhi uma música animada para começar (deu-me para ouvir uma colectânea dos 70s e 80s que começa com o "Who can it be now", dos Men at Work) e comecei a andar. Quando a música mudou para os Police, a tocar de forma contagiante o "So lonely", ao vivo no Rio de Janeiro, já eu estava a vibrar com a plateia, a correr a 9,0. Corri quinze minutos. Abrandei. Andei dois minutos. Voltei a correr. Estava a sentir-me forte e invencível.

De repente, ela chega. Cabelo todo apanhado num rabo de cavalo bastante em cima. Morena, muito morena. Olhos rasgados. Lábios carnudos, em forma de coração. Calças pretas em lycra justas, com uns pormenores quaisquer em baixo que não percebi bem, com uns zipper. Calçado da Reebok - um modelo que percebi que é novo, porque vi há pouco ser publicitado numa revista qualquer. Alta. Magra, mas com curvas. Resumindo, era um arraso de mulher. Foi para a passadeira ao lado da minha.

E, passado uns minutos, o meu sonho desvaneceu-se. É que ela continuava linda e maravilhosa. Mas a correr a 12,0!! Repito: 12,0. Eu estava no meu limite, nos 9,0. Ela corria com as costas direitas, os lábios cerrados com determinação e os braços a ultrapassarem o corpo num perfeito ângulo de 90º. A pele sempre morena, sem pingo de rubor ou suor. Eu? Eu estava cada vez mais roxa. Mais transpirada. O cabelo a começar a ganhar vida própria, a saltar-me para a cara. Os 9,0 cada vez mais impossíveis de manter. Até a banda sonora acompanhava o meu ridículo, estando a brindar-me com um piroso "I want to know what love is", dos Foreigner. Mas estava tão cansada que nem conseguia mudar.

Parei. Fui fazer abdominais. À minha frente, ela continuava linda e maravilhosa, com o cabelo nem um milímetro fora do sítio. A correr, feliz e contente. Um corpo perfeito. Um rabo que de certeza era alérgico a celulite e estrias, pois parecia super tonificado e nem saía do sítio a correr. Até que percebi: aquela mulher não era o Diabo. Aquela mulher era um anjo! O anjo da motivação e do desporto enviado por alguma força divina para me dar força para amanhã voltar. É um anjo que servia para me dizer, com uma voz meiga e sábia "vem correr todos os dias!! Vês estes glúteos perfeitos? Esta barriga lisa e sem ponta de gordura que mostro com este top estrategicamente transparente? Está tudo ao teu alcance! Veeeeem!! Veeeem! Vem todos os dias ao ginásio. Tu consegueeeees!!"

E vou conseguir. Acredito que sim! Não digo ficar igual, mas pelo menos hei-de melhorar. Junto a prova do crime: eu, antes de embarcar nesta cruzada. Ainda a sentir-me confiante e poderosa, com uma t-shirt que a minha irmã deixou cá em casa e que eu me apropriei (ahah vingança, maninha!). Mal sabia que a seguir ia ser eu tapar os olhos, como a menina da t-shirt, mas de vergonha por ficar roxa e transpirada.

Eu toda confiante. Durou cinco minutos. Sou uma triste.