quinta-feira, 30 de maio de 2013

Por vezes vale a pena esperar.

Eram um grupo pequeno de amigos. Três colegas de faculdade. Não estavam sempre de acordo, mas sabiam discutir e até se completavam. Ela, a única rapariga do grupo, era atrevida, dizia sempre tudo o que pensava, não tinha papas na língua, mas era ao mesmo tempo um pouco carente, pois não namorava e era muito inexperiente no amor. O L. era nadador de competição, participava em provas todos os fins-de-semana, não fumava, raramente bebia, dedicava-se ao desporto e era o eterno amigo das raparigas, que o viam como um óptimo ouvinte, divertido, bonito e muito bem parecido. O S. era o garanhão, que compensava a inexperiência dela com engates todas as semanas. Era um pouco intolerante, crítico, louco, mas muito amigo do seu amigo e fazia tudo pelos outros dois.

Andavam sempre os três. Ela e o S. planeavam festas, noites, jantares e acabavam sempre por convencer o L. a ir. Riam, conversavam, recordavam episódios vividos, comentavam histórias de pessoas que conheciam, ouviam as histórias das conquistas do S., as abordagens feitas ao L. e delineavam planos de ataque para ela conquistar o homem dos seus sonhos. Eram um trio dinâmico e feliz. E mesmo quando o S. ou o L. namoravam ou tinham alguém especial, as namoradas eram aceites pelos outros dois.

Um dia, ela e o L. acabaram a noite, sem saber como, aos beijos. Decidiram não repetir, para não estragar a amizade. A partir daí, no entanto, o L. começou a evitá-los. Arranjava desculpas como os estudos, os treinos ou até a doença da avó de que os outros nunca tinham ouvido falar. Passou a viver praticamente na biblioteca. Ela começou a ficar farta e decidiu confrontá-lo. Foi ter com ele à biblioteca. Procurou, procurou... E lá lhe viu as costas, debruçadas de forma muito atenta para o computador. Aproximou-se. Não podia acreditar! Ele estava a ver fotografias de homens aos beijos, sem roupa. Parou. Ele continuava a ver fotografias. Estava num site especializado. Ela não conseguiu avançar.

Foi para casa pensar no que tinha acabado de ver. E começou a lembrar-se dos últimos anos daquele trio de amigos. Da pressão que lhe faziam para arranjar namorada. Das vezes que insistiam para se meter com raparigas. Lembrou-se das vezes em que gozaram com colegas da faculdade com tiques. Dos nomes que lhes chamaram. Lembrou-se que ele ficava sempre calado. Eles sempre tinham achado que era por ser tão bom ouvinte. Qual bom ouvinte? Ele tinha andado, isso sim, anos em silencioso sofrimento, sem poder contar o que sentia nem aos melhores amigos.

Sentiu-se péssima amiga. Que amiga era ela que, afinal, não deu abertura ao melhor amigo para lhe revelar um segredo destes? Que amiga era ela para nunca ter desconfiado pelo seu olhar, pelo seu silêncio, pelo seu constrangimento? Que amigos eram eles, afinal? Será que o S. desconfiava? Não, nem por sombras. Ia ter que fazer alguma coisa. Ou não? Ser amigo não é dar espaço para nos contarem o que quiserem? Decidiu esperar. Ia ser paciente. E só lhe restava esperar que ele se sentisse preparado. E esperou. Esperou. Esperou. Dez anos. Nem mais, nem menos. Dez anos depois, ele contou-lhes. Tinha um namorado. E queria apresentar-lhes. O S. ficou em choque. Mas ela só sorriu. E abraçou-o. Com tanta força! Finalmente ele tinha confiado neles. Tinha valido a pena esperar.

2 comentários:

  1. Olá, costumo, de forma mais ou menos regular, passar aqui no teu blog para dar uma olhadela nos teus posts, pois acho particular piada ao modo como abordas alguns assuntos... E no entanto nunca comentei nada, mas desta vez não posso deixar passar... Pois sendo verídica ou imaginada por ti, é, sem tirar nem por a minha história de vida (tirando a parte de a "amiga" da minha história ainda não saber... e já se passaram 6 anos desde que nos afastamos, e de eu não ter sido tão assediado quando era mais novo como o "L.")...
    Simplesmente comecei a rir-me quando acabei de ler o post... e não acho que ela seja tão má amiga, uma vez a abertura para falar destes assuntos tem de vir de todos, e nunca é fácil, nem para os amigos, e muito menos para quem passa pela situação. Acredita... é um assunto muito, muito complicado para todos! :)

    Gonçalo.

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  2. Uma história longa mas com final feliz, ainda bem que agora as pessoas não tem que esconder os seus sentimentos como em tempos, ainda bem que somos mais livres =)

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